Amigos do Fingidor

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Lábios que beijei 47


Zemaria Pinto
Rogélia


Casada com um colega do banco, com quem me dava muito bem, apesar do pudor de chamá-lo de amigo, Rogélia era de uma beleza difícil de descrever: a pele achocolatada, os cabelos castanhos muito claros, os olhos profundamente azuis – e um corpo esculpido com requintes de perfeição. Certa manhã, toca o telefone e ela pergunta pelo marido, que se sentava à minha frente, no lado oposto da sala. Ele estava lá, mas ela queria falar mesmo era comigo, queria encontrar-se comigo, longe da paisagem cotidiana. Marcamos para o final da tarde, no balneário do Parque 10, cujo bar funcionava a partir de quinta-feira. Ela estava com um véu sobre a cabeça e óculos escuros, mas era impossível disfarçar aquele corpo monumental, sem par em toda a cidade. No bar, pouco mais de 18 horas, apenas dois casais, muito provavelmente, clandestinos também. Rogélia soubera que o marido andava de caso com uma estudante do Pedro II – e queria vingança. Mas por que eu? – Porque ele não gosta de você; acha que ele, por inúmeras razões, deveria ocupar o seu lugar no banco; e por muito tempo ele me pintou você como um sedutor irresponsável, um moleque; agora, eu quero que você me seduza... Àquela mulher tão linda, era quase impossível dizer não. Tentei argumentar, mas ela me sufocou com um beijo, o hálito quente, um gosto de framboesa. 

(Continua no blog Poesia na Alcova)