Amigos do Fingidor

terça-feira, 9 de junho de 2015

Missa pela manhã



Pedro Lucas Lindoso

Nas zonas temperadas da Terra as estações são bem definidas.  Com verão de noites curtas e dias longos e invernos sem sol. Já aqui na Amazônia, o tempo se mede pela subida e descida do sol, do oriente ao ocidente, sem maiores variações durante o ano. O que importa é o regime das águas. De janeiro a junho o rio enche. É quando chove muito. Alguns dizem que é inverno porque o calor é moderado. De julho a dezembro temos a vazante. As chuvas ficam mais escassas e aparecem as praias nas margens dos rios.
O caboclo ribeirinho vive uma existência meio que atemporal. Muitos não usam relógio e sequer sabem ler e dizer as horas. Conheci um que usava um relógio com bateria vencida. Era um simples enfeite. Em certas comunidades, relógio não tem serventia, pois as coisas acontecem nas manhãs, à tarde ou à noite.
O padre Sidney Canto dá assistência religiosa a uma comunidade ribeirinha no Baixo Amazonas. Padre Sidney é um homem humanista e valoroso. Dentre suas diversas atividades, trabalhou na criação do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós.
O padre nos contou que certa feita foi rezar uma missa num vilarejo ribeirinho e fazer alguns batizados. Chegou à comunidade por volta das sete horas. Não havia ninguém. Às sete e meia chegou o ministro da eucaristia e os coroinhas que iriam ajudar na missa. Às oito horas começou a chegar mais gente. Ás oito e meia, finalmente, inicia-se a missa. Como já dito, os eventos na Amazônia acontecem nas manhãs, à tarde ou pela noite.
As distâncias também são em escalas desconhecidas aos brasileiros do sudeste. O sacerdote havia acordado as três da matina para chegar à comunidade às sete horas. Enfrentou algumas horas de lancha, que é mais rápido.
Após a missa aconteceu o batizado das crianças. O relógio marcava dez e meia quando Pe. Sidney dirigiu-se à lancha que o traria de volta a Santarém. De repente atracou uma canoa com um casal e uma garotinha de colo. Vinham para ouvir a missa e batizar a pequena cunhatã. Haviam remado por duas horas de sua comunidade até o vilarejo.
O padre disse que já havia rezado a missa e feito os batizados. Mas desembarcou da lancha para atender ao jovem casal. O rapaz havia argumentado:

– Seu padre, a missa não era pela manhã?