Amigos do Fingidor

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Volte já para o seu lugar



Pedro Lucas Lindoso
            

O trágico desastre aéreo da Germanwings causado pela saída do comandante da cabine, viabilizando a loucura fatal do copiloto, fez me lembrar de uma viagem de dona Carmosina, com destino a Fortaleza.
Dona Carmosina é uma cearense típica, despachada, engraçada e sorridente. Já saiu do Ceará faz tempo, mas o Ceará e seus costumes, sotaques e idiossincrasias não abandonam dona Carmosina.
Carmosina é bem de vida, estribada, como se diz em Fortaleza. Mas tem verdadeiro pavor de andar de avião. Com certa razão. O voo Vasp 168, em junho de 1982, se chocou contra a Serra da Aratanha, na Região Metropolitana de Fortaleza. Todos os 137 ocupantes do Boeing morreram na colisão, inclusive sua filha mais nova.
Apesar desses fatos trágicos, as viagens de dona Carmosina são sempre recheadas de estórias fantásticas relatadas pelos acompanhantes. Ela nunca viaja sozinha. E poucos se candidatam a acompanhá-la. É um mico total. Carmosina viaja, com um terço na mão, uma toalha na cabeça e fica o tempo todo rezando e suspirando. Quando não dá gritos ou cai no choro.
Na sua última viagem, Aline, sua sobrinha-neta, topou acompanhá-la. Afinal passagem e estadia em Fortaleza paga qualquer constrangimento.
Carmosina e Aline sentaram-se na primeira fila no avião. Cadeiras 1B e 1C, respectivamente. Na janela 1A estava um garoto de uns oito anos, com cara de danação, entregue aos comissários, pois estava desacompanhado. Na cadeira 1D e 1E, sentou-se um casal com um bebezinho que chorava o tempo todo. Na cadeira 1F, sentou-se uma religiosa obesa, que também portava um terço, mas estava calma.
Aline pergunta ao garoto, o que era aquela medalha alfinetada em sua camisa. O menino diz que era uma medalha de Padre Cícero, uma espécie de “salvo”. Se o avião cair, só ele se salvaria. Pronto. Carmosina deu um grito e começou a chorar. A freira perguntou se ela chorava por ser parente de um defunto que estava sendo transportado naquele voo. Carmosina deu um grito histérico. Foi o fim da picada. A bebezinha também começou a chorar. Confusão total.
O comandante sai da cabine para resolver a questão e acalmar os ânimos. Carmosina pergunta ao piloto:
– Quem é o senhor? E ele responde;
– Sou o comandante.
Pelo amor de Deus, volte já para o seu lugar. Agora!!!

E desmaiou.