Amigos do Fingidor

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Mentira e fraude acadêmica 1/2


João Bosco Botelho

    
De modo geral, em maior ou menor escala, a mentira faz parte da estrutura social humana. Não é à toa que a Bíblia mantém censura aos mentirosos e à mentira (Levítico 19:11, Provérbios 6:17, João 14:16).
Importantes filósofos trataram do tema. Platão, por exemplo, no genial diálogo “Sobre a Mentira e Sobre a Inspiração poética” (Hípias Menor e Íon), onde Sócrates e Hípias examinam a importância de saber mentir. Aristóteles (384-322 a.C.) só creditava dois tipos de mentira: diminuindo ou aumentando uma verdade, enquanto Santo Agostinho, no século 4, descreveu seis características da mentira: malefício a alguém, mas é útil a outro; prejudica sem beneficiar ninguém; prazer de mentir; diverte alguém; a que leva ao erro religioso; “boa mentira”, que salva a vida de uma pessoa.
As evidências apontam diferentes tipos de mentiras. Uma das reconhecidas é a criança que mente com a intenção de proteger-se do eventual castigo ou impondo falsa acusação ao irmão, para vê-lo castigado e atenuando o próprio ciúme. Apesar de não haver parâmetro etário para que a criança interrompa as mentiras, a censura familiar exerce influência para que valorize a verdade.
A psicóloga paulista Maria Helena de Brito Izzo afirma: “Num país como o Brasil, em que a impunidade corre solta, mesmo um adulto pode não ver mal algum em mentir”. Essa circunstância sociopolítica agregada à ausência da censura familiar, pode agravar o quadro doentio, tornando o núcleo familiar compulsivamente mentiroso: todos mentem o tempo todo, e, pior, acreditam nas mentiras.
Os estudos experimentais evidenciam que os mentirosos se comportam de modos semelhantes: escondem as mãos, involuntariamente, retiram as mãos de cena, colocando-as nos bolsos; alisam a face e encobrem a boca. Esse conjunto gestual está ligado às mudanças fisiológicas que ocorrem no corpo durante a linguagem oral mentirosa, assinaladas pelo detector de mentiras: a respiração altera-se, inicia a taquicardia e aumenta o suor.
A mentira ampara e reproduz a fraude acadêmica!
As consequências sociopolíticas da fraude acadêmica podem assumir diferentes gravidades: desde comprometer a vida de milhares de pessoas até destruir a formação moral de pessoas.
É conhecido o episódio, em abril de 2013, quando o jornal The New York Times publicou a história do pesquisador Diederik Stapel, reconhecido psicólogo social holandês, que havia falsificado os resultados de determinada pesquisa durante dez anos.
Em outra fraude acadêmica, o pesquisador britânico Andrew Wakefield, em 1998, foi acusado de fraudar um estudo publicado, em 1998, no qual relacionava o autismo à vacina tríplice viral. Uma vez comprovado o desvio acadêmico, Wakefield não só teve sua pesquisa retratada como perdeu sua licença médica. Em consequência, milhares de famílias temerosas, não vacinaram os filhos, aumentando a possibilidade de exposição às doenças.
Em março de 2011, ficou mundialmente conhecida a fraude acadêmica do ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, de 39 anos, que solicitou demissão após ter sido acusado de plágio na sua tese de doutorado. Guttenberg ficou sem seu título de doutor em Direito, anunciado pelo presidente da instituição bávara, Rüdiger Bormann: "A Universidade de Bayreuth retira do Sr. zu Guttenberg o título do doutorado. A tese não correspondeu a um trabalho científico correto".
Em abril de 2012, o plágio na tese de doutorado determinou a renúncia do presidente da Hungria, Pál Schmitt, também com a perda do título de doutor, pela Faculdade de Medicina da Universidade Semmelweis de Budapeste.