João Bosco Botelho
De modo geral, em maior ou menor escala, a mentira faz parte
da estrutura social humana. Não é à toa que a Bíblia mantém censura aos
mentirosos e à mentira (Levítico 19:11, Provérbios 6:17, João 14:16).
Importantes filósofos trataram do tema. Platão, por exemplo, no
genial diálogo “Sobre a Mentira e Sobre a Inspiração poética” (Hípias Menor e
Íon), onde Sócrates e Hípias examinam a importância de saber mentir.
Aristóteles (384-322 a.C.) só creditava dois tipos de mentira: diminuindo ou
aumentando uma verdade, enquanto Santo Agostinho, no século 4, descreveu seis
características da mentira: malefício a alguém, mas é útil a outro; prejudica
sem beneficiar ninguém; prazer de mentir; diverte alguém; a que leva ao erro
religioso; “boa mentira”, que salva a vida de uma pessoa.
As evidências apontam diferentes tipos de mentiras. Uma das
reconhecidas é a criança que mente com a intenção de proteger-se do eventual
castigo ou impondo falsa acusação ao irmão, para vê-lo castigado e atenuando o
próprio ciúme. Apesar de não haver parâmetro etário para que a criança
interrompa as mentiras, a censura familiar exerce influência para que valorize
a verdade.
A psicóloga paulista Maria Helena de Brito Izzo afirma: “Num
país como o Brasil, em que a impunidade corre solta, mesmo um adulto pode não
ver mal algum em mentir”. Essa circunstância sociopolítica agregada à ausência
da censura familiar, pode agravar o quadro doentio, tornando o núcleo familiar
compulsivamente mentiroso: todos mentem o tempo todo, e, pior, acreditam nas
mentiras.
Os estudos experimentais evidenciam que os mentirosos se
comportam de modos semelhantes: escondem as mãos, involuntariamente, retiram as
mãos de cena, colocando-as nos bolsos; alisam a face e encobrem a boca. Esse
conjunto gestual está ligado às mudanças fisiológicas que ocorrem no corpo
durante a linguagem oral mentirosa, assinaladas pelo detector de mentiras: a
respiração altera-se, inicia a taquicardia e aumenta o suor.
A mentira ampara e reproduz a fraude acadêmica!
As consequências sociopolíticas da fraude acadêmica podem
assumir diferentes gravidades: desde comprometer a vida de milhares de pessoas
até destruir a formação moral de pessoas.
É conhecido o episódio, em abril de 2013, quando o jornal The
New York Times publicou a história do pesquisador Diederik Stapel, reconhecido
psicólogo social holandês, que havia falsificado os resultados de determinada
pesquisa durante dez anos.
Em outra fraude acadêmica, o pesquisador britânico Andrew
Wakefield, em 1998, foi acusado de fraudar um estudo publicado, em 1998, no
qual relacionava o autismo à vacina tríplice viral. Uma vez comprovado o desvio
acadêmico, Wakefield não só teve sua pesquisa retratada como perdeu sua licença
médica. Em consequência, milhares de famílias temerosas, não vacinaram os
filhos, aumentando a possibilidade de exposição às doenças.
Em março de 2011, ficou mundialmente conhecida a fraude
acadêmica do ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, de 39 anos,
que solicitou demissão após ter sido acusado de plágio na sua tese de
doutorado. Guttenberg ficou sem seu título de doutor em Direito, anunciado pelo
presidente da instituição bávara, Rüdiger Bormann: "A Universidade de
Bayreuth retira do Sr. zu Guttenberg o título do doutorado. A tese não
correspondeu a um trabalho científico correto".
Em abril de 2012, o plágio na tese de doutorado determinou a
renúncia do presidente da Hungria, Pál Schmitt, também com a perda do título de
doutor, pela Faculdade de Medicina da Universidade Semmelweis de Budapeste.