Pedro Lucas Lindoso
Sou de uma família de “apaixonados por livros”. Meu pai, José
Lindoso, costumava ir frequentemente às livrarias. Principalmente, aos sábados
pela manhã. Morávamos na Rua Henrique Martins. As principais livrarias de
Manaus ficavam na nossa rua, depois da Avenida Eduardo Ribeiro. Lembro-me
especialmente da Livraria Acadêmica.
Meu irmão mais velho foi editor e presidiu a Câmara
Brasileira do Livro.
Nossa casa abrigou várias bibliotecas. Mas nunca foram
devidamente sistematizadas. Os livros de Direito costumam ficar desatualizados.
Entre mudanças, empréstimos, pequenos “furtos” e doações, muitos livros se
perderam.
Durante muito tempo, meu quarto abrigou parte da biblioteca
de meu pai. Adolescente, convivi com o Tratado
de Direito Privado, de Pontes de Miranda, rente à minha cama. José Lindoso
foi professor de Direito Civil na Velha Jaqueira, antiga Faculdade de Direito
do Amazonas.
Vivi e vivo entre livros. Não seria feliz se tivesse nascido
na Idade Média, antes de Gutemberg. Para mim, o maior e mais importante inventor
da Humanidade.
Geoffrey Chaucer – magnífico escritor e filósofo inglês do
século XIV. Muito lembrado pela sua obra Os
Contos de Canterbury (The Canterbury
Tales, em inglês). Clássico da literatura inglesa medieval. O personagem
Monge, um dos meus preferidos, tinha muito orgulho de sua biblioteca. A maior
de todas! Seis livros!
Minha neta Maria Luísa, com dois anos de idade, tem no mínimo
o dobro de livros do monge medieval de Chaucer. Sem contar diversos livros de
plástico, para leitura no banho e na piscina.
E adora seus livrinhos. E já os identifica. Eu quero o do
sapo. O do botinho. O do Jacaré. E pede: vem vovô, vamos livrar!
Maria Luísa criou um neologismo. O verbo livrar. Com apenas
dois anos e já contribuiu imensamente com a Língua Portuguesa.
O neologismo é a criação de uma palavra nova. Pode ser fruto
de um comportamento espontâneo. Foi assim que Maria Luísa criou o verbo livrar.
Espontaneamente. Criar neologismos é uma habilidade inata e própria do ser
humano e da linguagem.
Numa época em que se
lê no computador, tabletes e mensagens no celular, precisava-se de um verbo
envolvendo o livro físico de papel.
Que maravilha. Temos agora o verbo livrar. Transitivo direto.
Significa ler e gostar de livros de papel. Acho que essa garotinha merece o Prêmio
Camões de Língua Portuguesa ou o Jabuti!
Verbo livrar! Esse é ótimo! Livrar é mesmo muito bom.