Amigos do Fingidor

terça-feira, 24 de abril de 2018

Índio quer apito, futebol e respeito



Pedro Lucas Lindoso


Dia 19 de abril. Dia do índio. Todo dia era dia de índio, reza a famosa canção. 19 de abril de 1997. Galdino Jesus dos Santos, líder indígena da etnia pataxó, participa em Brasília de manifestações pelo dia do índio. Na madrugada seguinte, foi queimado vivo enquanto dormia em um abrigo de um ponto de ônibus da capital. O crime foi praticado por cinco jovens. 19 de abril é um triste dia para os pataxós.
Há muito pouco o que comemorar entre as outras etnias espalhadas pelo Brasil. Segundo o IBGE, existem 305 etnias e 274 idiomas. Os indígenas autodeclarados representam menos de 1% dos habitantes do país.
Estava curioso em saber o que desejam os jovens índios de nossos dias. Fui conversar com meu amigo Paulinho Dessana. Soube que o grande desejo de muitos jovens indígenas é igual a de muitos outros jovens brasileiros. Principalmente em época de Copa do Mundo. Tornar-se um Neymar. Um craque da bola.
Para as lideranças indígenas o futebol é uma excelente ferramenta de inclusão social. Por outro lado, como diz Paulinho, as falcatruas dos cartolas são incompatíveis com os valores dos povos indígenas.
Aqui no Amazonas temos o Campeonato Peladão.  A maior competição de futebol amador do país. Dentre as várias modalidades –  sênior, infantil e feminina – temos a indígena. A participação dos índios no campeonato é importante para eles. É uma autoafirmação. Os indígenas querem dizer para os não indígenas que podem ser iguais a eles. O futebol é uma forma de quebrar paradigmas e o isolamento.
Paulinho conta que um dos grandes goleadores de um time indígena costumava entrar em campo usando cocar e pinturas características de sua tribo. Um olheiro levou-o para um time profissional da cidade. Infelizmente, para que os times possam prosperar é preciso intensificar o intercâmbio com os brancos. Nem sempre isso é harmonioso e traz vantagens para os times indígenas. Há o choque cultural. Proibiram o cocar e as pinturas.
Meu amigo Paulinho é árbitro de um time de índios urbanos, aqui em Manaus. Um grupo de amigos fez uma vaquinha. Compramos uma caixa de apito FOX PEARL. Uma das melhores marcas de apito para árbitros. Foi nosso presente para o Paulinho, pelo 19 de abril, dia do Índio. 
Os índios continuam querendo apito, futebol e, principalmente, respeito.