Amigos do Fingidor

terça-feira, 17 de abril de 2018

Verbo enticar – transitivo indireto



Pedro Lucas Lindoso


Logo após o famoso imbróglio entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, ocorrido no plenário do Supremo Tribunal Federal, tia Idalina me liga do Rio de Janeiro.
– Coitada da Carminha! E eu pergunto:
– Mas quem é Carminha, titia?
– A Carmem Lúcia. Conheci Carminha quando participei de um seminário na Sorbonne. Um evento maravilhoso, em Paris. Ficamos amigas. Ela agora tem que ficar administrando entreveros entre esses marmanjos mal-educados. Um horror! O energúmeno do Gilmar Mendes, primeiro enticou com a Carminha. Depois, enticou com esse moço aqui do Rio de Janeiro, o Dr. Luiz Fux. Por último, foi enticar com o ministro Barroso. Levou um merecido carão.
Fazia anos que eu não ouvia o verbo enticar. Como se sabe, significa mexer com alguém, implicar, importunar, aborrecer. E também a palavra carão, no sentido de repreensão, reprimenda. Só mesmo tia Idalina. Palavras que mexem com minha memória afetiva. Minha mãe me dava “carão” se eu ficasse enticando com minhas irmãs menores.
– Não sabia que a senhora era amiga da ministra Carmem Lúcia, disse-lhe.
– Há muito tempo não converso com ela. É uma simpatia. Adoro a Carminha. É de Minas Gerais. Mais mineira que pão de queijo e broa de milho. Esses ministros brigões não conhecem os mineiros. Mineiro toma banana de macaco. Deixa o macaco contente e agradecido. E ainda devendo favor!
Essa definição de mineiro é ótima, disse-lhe. E nós amazonenses gostamos muito de banana. Frita, assada, cozida. Mingau de banana então é uma delícia!
– O amazonense briga com o macaco pelas bananas. Depois acusa o macaco de ser sulista e vir para o Amazonas levar vantagens e tomar as bananas dos amazonenses. Uma coisa!
Mas essa história dos ministros do STF ficarem enticando um com o outro é muito sério e constrangedor para os brasileiros.
– Pois é. O outro já está enticando com a Carmem Lúcia.
– Que outro, tia Idalina?
– Outro é o outro. Sei lá quem é o outro. E desligou.
Tia Idalina, amazonense moradora de Copacabana, sofre da mesma mineirice da ministra. É bom mesmo não enticar com elas.