Pedro Lucas Lindoso
Houve uma época em que não havia o IBAMA e desconhecia-se o
Direito Ambiental. Vendiam-se tartarugas, papagaios e periquitos livremente no
Mercado Adolpho Lisboa, aqui em Manaus, o nosso Mercadão. Tinha até uma ala só
para a venda das tartarugas.
Menino de calças curtas, ganhei de presente de aniversário da
Darinha um periquito verde, que fora licitamente comprado nos arredores do Mercadão.
Daria Nascimento, a nossa querida Darinha, foi lá para nossa casa antes de eu
nascer. Era analfabeta funcional, mas seu Português oral era impecável.
Flexionava os verbos e usava os pronomes de forma escorreita. Tinha certa
autoridade sobre nós, delegada por nossa mãe. Era carinhosa e cuidadosa com
minhas irmãs.
Menino curioso, perguntei a ela se aquele periquito verde era
macho ou fêmea. Darinha me explicou que ele era muito novinho para saber. Se
ficasse com o narizinho de cor azul, seria macho; se ficasse com narinas de cor
marrom rosado, seria fêmea.
De fato, depois de algum tempo, o nariz do periquito ficou
amarronzado e Darinha veio me dizer que o periquito era na verdade uma
periquitinha. Recebeu o nome de Manduquinha.
No sábado seguinte, acompanhei minha mãe em compras no
Mercadão. Tinha o objetivo de comprar um companheiro periquito para morar com a
Manduquinha, que estava muito solitária.
Para minha surpresa, logo na entrada do mercadão, tinha um
caboclo forte, com um enorme cesto de vime, o que chamamos de paneiro, cheio de
periquito verde.
E as pessoas pediam ora periquito macho, ora periquita fêmea.
E o caboco vendendo na forma dos pedidos.
Menino esperto, verifiquei que os periquitos eram muito
novinhos. Não dava para ver se o
narizinho era azul de macho ou marrom róseo de fêmea. Com toda a minha coragem,
perguntei do vendedor como ele sabia se os periquitos eram macho ou fêmea.
Na maior cara de pau, o caboclo me responde:
– No “parpite”.
– Então, me vende um periquito macho.
Foi um palpite feliz. “Parpite” certo. Dei o nome do bichinho de Parpite.