Zona Franca
Simão Pessoa
Esta zona nunca foi
franca
mas falsa:
com seu estilo decadente
de art noveau sem
graça.
Ali onde havia macacaúba,
marupá, louro e andiroba
hoje é só vidro fumé
(concreto armado
com portas pantográficas
e dégradé).
Ali onde nadava o matrinxã,
piramutaba, tucunaré e
jaraqui
hoje é só veio de lama
(esgotos fétidos
com suas imundas
ratazanas).
Ali onde cantava o
japiim,
pipira, curió, uirapuru
hoje é só banco de
mármore
(carrinho de pipoca
com a praça da Matriz
e da Saudade).
Ali onde andava o tracajá
capitari, iaçá e cabeçudo
hoje é só vão de dentro
(urubu sobrevoando
com cunhãs catando
o lixo).
Ali onde comia o caititu,
queixada, tamanduá e
capivara
hoje é só desmatamento
(conjuntos do BNH
com gente cabisbaixa
dentro)
esta zona franca nunca
passou
de um rendez-vous:
com suas polacas new
society
e seus homens-guabiru.