Amigos do Fingidor

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A poesia é necessária?


Zona Franca
Simão Pessoa


Esta zona nunca foi franca
mas falsa:
com seu estilo decadente
de art noveau sem graça.

Ali onde havia macacaúba,
marupá, louro e andiroba
hoje é só vidro fumé
(concreto armado
com portas pantográficas
e dégradé).

Ali onde nadava o matrinxã,
piramutaba, tucunaré e jaraqui
hoje é só veio de lama
(esgotos fétidos
com suas imundas
ratazanas).

Ali onde cantava o japiim,
pipira, curió, uirapuru
hoje é só banco de mármore
(carrinho de pipoca
com a praça da Matriz
e da Saudade).

Ali onde andava o tracajá
capitari, iaçá e cabeçudo
hoje é só vão de dentro
(urubu sobrevoando
com cunhãs catando
o lixo).

Ali onde comia o caititu,
queixada, tamanduá e capivara
hoje é só desmatamento
(conjuntos do BNH
com gente cabisbaixa
dentro)

esta zona franca nunca passou
de um rendez-vous:
com suas polacas new society
e seus homens-guabiru.