Pedro Lucas Lindoso
Tia Idalina me telefona, aos prantos. Sua encomenda de
pirarucu e farinha do Uarini foi confiscada por fiscais da Anvisa, no Terminal
de Cargas do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o conhecido Galeão.
Todo ano, no Natal, tia Idalina faz uma receita especial de
pirarucu do céu. Já publicamos tal receita, com autorização dela,
evidentemente. Aí vai novamente, a pedidos:
“Assar o pirarucu. Após, tirar as lascas. Fazer um bom
refogado com cebola, cebolinha, cheiro-verde, tomate e pimentão. Usar azeite.
Usar farinha do Uarini molhada no leite de castanha. Colocar na tigela uma
camada de pirarucu, misturada com o refogado. Em seguida uma camada de farinha
molhada no leite de castanha. Outra camada de pirarucu, em seguida outra de
farinha. Enfeitar com ovo cozido, azeitonas e tomate. Fritar banana comprida
para acompanhar”.
A receita é muito parecida com o famoso pirarucu de casaca.
Idalina diz que não é a mesma coisa. Outro dia, num “chá” em homenagem a Almir
Diniz, dona Aníria, sua esposa, nos brindou com um pirarucu fardado. Muito
gostoso. O fato é que fardado, de casaca ou traje esporte o nosso “bacalhau da
Amazônia” é muito gostoso.
Mas, voltemos ao drama reportado por tia Idalina. As
embalagens destinadas ao contato com alimentos podem transferir substâncias que
representam risco à saúde. A Anvisa regulamenta a matéria visando a segurança
do uso de materiais em contato com alimentos. Por atribuição legal, portanto, a
Anvisa tem a competência de regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e
serviços que envolvam risco à saúde pública, dentre eles, embalagens para
alimentos.
A encomenda de tia Idalina não tinha nota fiscal. A lei
determina que embalagens de pescados devem ter as seguintes informações: tipo
do pescado, estabelecimento de origem, peso líquido, data de embalagem, prazo
de validade, forma de conservação.
Não teve argumento que pudesse convencer o fiscal da Anvisa a
liberar a encomenda.
O fato é que titia resolvera pedir para um ex-namorado da
Tina despachar os produtos. O rapaz sofre de leseira baré aguda. E fez o que
fez. O que não tem remédio remediado está.
Tia Idalina se conformou com a perda. “Que façam bom proveito
do meu pirarucu e da minha farinha”, disse, se autoconsolando. Devem ser
amazonenses esses fiscais. E como sempre, Idalina tem um ditado para cada
situação:
– Barco perdido, bem carregado.