Pedro Lucas Lindoso
Nas festas de Natal e Ano Novo sempre nos dá vontade de comer
algo específico. Considerando os cinco sentidos: audição, visão, tato, olfato e
paladar. Não só estes dois últimos se referem às comidas. Mesmo antes de provar
um alimento, nossos outros sentidos, como a visão e a audição, são acionados.
Quando ouvimos a fritura de um alimento ou quando avistamos a placa de um
restaurante famoso.
Obviamente há muitos outros fatores que condicionam essa
experiência. De fato, o ato de comer é uma experiência sensorial. Em especial
nas festas de final de ano.
A memória gustativa em particular é um sentimento saudosista
de tudo que nos traz boas lembranças que provocam a consciência de um sabor que
remete ao passado.
Na casa de meus sogros, o queijo bola, o famoso queijo do
reino, era disputadíssimo no Natal. Além das famosas rabanadas.
Muitos brasileiros, principalmente os descendentes de
portugueses, não abrem mão dos bolinhos de bacalhau. Há ainda as deliciosas
castanhas portuguesas. As nozes, os queijos e também as nossas frutas
regionais.
Em nossa família era costume matar um leitão e mandar assar
na padaria da família Grosso, na Sete de Setembro. Costumes de uma Manaus que
não existe mais.
Meus filhos pedem sempre o tender. E, principalmente, um
certo bolo de chocolate. Um delicioso bolo impregnado de uma gostosa e suave
calda, cuja receita pernambucana é uma das especialidades de minha mulher.
Bacalhoada, pernil, frutas cristalizadas, saladas especiais,
fricassés e arroz de lentilhas. Arroz à grega e à piemontesa. Os regionais
patos no tucupi, pirarucu de casaca, vatapá e caruru.
O peru é o prato mais tradicional, tendo sido usado desde o
século 16 na Europa. Recentemente, no Brasil, o pernil de porco e o frango
passaram a estar muito próximos do peru na ceia de Natal.
Ah! E a nossa farofa. Jamais poderíamos esquecê-la. Tem a
farofa básica, a farofa doce e a farofa de ovo.
Nada supera a rabanada. Ou fatias paridas. Receita
tradicional nas ceias de Natal. Muito popular em Portugal e no Brasil.
Não me conformo de só comer rabanadas nesta época. As
rabanadas são servidas no Natal e remetem a lembranças não só gustativas e
olfativas, mas principalmente aquelas do fundo do coração.