Amigos do Fingidor

terça-feira, 26 de maio de 2020

A naninha de Maria Luísa



Pedro Lucas Lindoso


Nunca pensei que ficaria feliz em fazer aniversário na quarentena. Longe de todos os familiares. Sem possibilidade de receber abraços. Os presentes perdem muito sua importância quando atingimos certa idade. Claro que é gostoso recebê-los. Mas quando se anda (ou andava) pelos shoppings e se vê tanta coisa de que não necessitamos...
O fato é que acordei cedo no dia do meu aniversário. Percebi que a cantoria dos passarinhos e outros bichos que voam, bem como de galos que fazem barulho nas alvoradas, aumentou. Moro às margens do Igarapé do Mindu. Apesar de ser área bem urbana, há árvores que dão guarida a esses seres que mencionei.  Fazem algazarra ao amanhecer. E como disse, o barulho aumentou consideravelmente. Seria o silêncio imposto pela pandemia e o isolamento social? Ou será que a fauna e a flora, menos agredida ultimamente, se apresenta com mais efervescência? Esse é um dos lados bons da pandemia.
Minha família me presenteou com uma simpática e farta cesta delivery de café da manhã. Aliás, com um toque especial de queijos e vinhos a ser degustado pela noite. Gostei do presente.
Mas o melhor estava por vir. Temos visto nossa netinha através de sistema drive thru. Vamos vê-la de carro e mantemos a distância recomendada. Todos com as indefectíveis máscaras.
Minha netinha Maria Luísa adora aniversários. Tem sido convidada a participar de aniversários dos amiguinhos por vídeo.
 Minha nora relata que se emociona. As crianças trocam presentes virtuais. Buscam coisinhas delas mesmas e ofertam de faz de conta aos amiguinhos.
O meu aniversário, obedecendo às regras de distanciamento social, foi comemorado ao ar livre. E foi um sucesso. Teve bolo, brigadeiro e balão. Foi a festa da família Shark.  Tudo para deixar a Maria Luísa feliz.  E aí veio a emoção maior.
Maria Luísa achou importante dar presente para o vovô Shark. E me “emprestou” um dos seus bens mais valiosos. O que os psicólogos chamam de “objeto de transição”. O mais famoso é o do personagem Linus, da Turma do Charlie Brown. O da Maria Luísa é uma fraldinha, uma naninha. Requisitado quase sempre na hora do sono. O objeto de transição é bem comum na primeira infância e importante para o desenvolvimento emocional da criança.
Foi o que ela achou para me presentear. “Emprestado”, é claro. Assim, fiquei como fiel depositário do objeto mais precioso e infungível do mundo: a naninha da Maria Luísa.