Amigos do Fingidor

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Um autógrafo, por favor

Pedro Lucas Lindoso

 

Houve uma época em que as pessoas famosas, as celebridades e/ou mesmo as admiradas por alguns poucos, eram solicitadas a dar autógrafos. Em hall de hotéis, aeroportos, saídas de shows ou qualquer lugar público havia alguém muito conhecido dando autógrafo a algum fã. Hoje a moda é pedir uma “self”. Ou ser fotografado pelo celular.

Não sou, obviamente, uma celebridade. A primeira vez que me pediram um autógrafo foi após uma apresentação de “slides” sobre o Brasil. Era estudante de intercâmbio em Ohio, nos Estados Unidos. Fui convidado a falar sobre o Brasil numa Junior High School (escola de ensino fundamental).

Nos anos setenta não havia celular, Internet nem datashow. Eu tinha uma pequena coleção de “slides” sobre o Brasil. Fotos do Rio, Brasília, São Paulo e, claro, de Manaus, do nosso teatro e do encontro das águas.  Eram a base de minhas “conferências” sobre o Brasil. Um lugar exótico e desconhecido dos americanos do Meio Oeste, onde morei na longínqua década de 1970.

Após falar sobre o Brasil, mostrar meus slides e tocar umas músicas brasileiras num gravador de fita cassete, eu fui aplaudido. E no final, vieram me pedir autógrafos. Me senti importante pela primeira vez na vida. 

A segunda vez em que fui solicitado a dar um autógrafo foi por uma sobrinha. À época, com seis anos de idade. Ela estava aprendendo e compreendendo as relações familiares. Descobriu que eu não era um “tio” qualquer. Eu era tio porque era irmão de seu pai. Um tio em sentido estrito, um tio de verdade, um tio “completo”, como ela mesma me definiu. E, claro, peguei um cartão de visitas e dei um autógrafo a ela.

Nos lançamentos de meus livros, além da dedicatória, sou solicitado a tirar fotos com as pessoas que me prestigiam. Apesar de não ser celebridade, sou admirado e querido por alguns. Mas só me pedem fotos, nunca autógrafos.

Foi então que semana passada aconteceu o terceiro autógrafo inesquecível. Uma senhorinha de 92 anos, Dona Terezinha, quis me conhecer. Era minha leitora. Havia lido meus livros, inclusive meu romance Oremos pela Guerra. Após cumprimentá-la, agradecer pelo seu carinho e despedir-me, ela então me surpreendeu:

– Um autógrafo, por favor.

Dona Terezinha tem um caderno capa dura com vários autógrafos. Há do Roberto Carlos, Pelé, Elis Regina. Muitos artistas. Vários ex-presidentes e governadores. E agora eu! Quanta honra!