Pedro Lucas Lindoso
Houve
uma época em que as pessoas famosas, as celebridades e/ou mesmo as admiradas
por alguns poucos, eram solicitadas a dar autógrafos. Em hall de hotéis,
aeroportos, saídas de shows ou qualquer lugar público havia alguém muito
conhecido dando autógrafo a algum fã. Hoje a moda é pedir uma “self”. Ou ser
fotografado pelo celular.
Não
sou, obviamente, uma celebridade. A primeira vez que me pediram um autógrafo
foi após uma apresentação de “slides” sobre o Brasil. Era estudante de
intercâmbio em Ohio, nos Estados Unidos. Fui convidado a falar sobre o Brasil
numa Junior High School (escola de ensino fundamental).
Nos
anos setenta não havia celular, Internet nem datashow. Eu tinha uma pequena
coleção de “slides” sobre o Brasil. Fotos do Rio, Brasília, São Paulo e, claro,
de Manaus, do nosso teatro e do encontro das águas. Eram a base de minhas “conferências” sobre o
Brasil. Um lugar exótico e desconhecido dos americanos do Meio Oeste, onde
morei na longínqua década de 1970.
Após
falar sobre o Brasil, mostrar meus slides e tocar umas músicas brasileiras num
gravador de fita cassete, eu fui aplaudido. E no final, vieram me pedir
autógrafos. Me senti importante pela primeira vez na vida.
A
segunda vez em que fui solicitado a dar um autógrafo foi por uma sobrinha. À
época, com seis anos de idade. Ela estava aprendendo e compreendendo as
relações familiares. Descobriu que eu não era um “tio” qualquer. Eu era tio
porque era irmão de seu pai. Um tio em sentido estrito, um tio de verdade, um
tio “completo”, como ela mesma me definiu. E, claro, peguei um cartão de
visitas e dei um autógrafo a ela.
Nos
lançamentos de meus livros, além da dedicatória, sou solicitado a tirar fotos
com as pessoas que me prestigiam. Apesar de não ser celebridade, sou admirado e
querido por alguns. Mas só me pedem fotos, nunca autógrafos.
Foi
então que semana passada aconteceu o terceiro autógrafo inesquecível. Uma
senhorinha de 92 anos, Dona Terezinha, quis me conhecer. Era minha leitora.
Havia lido meus livros, inclusive meu romance Oremos pela Guerra. Após
cumprimentá-la, agradecer pelo seu carinho e despedir-me, ela então me
surpreendeu:
– Um
autógrafo, por favor.
Dona
Terezinha tem um caderno capa dura com vários autógrafos. Há do Roberto Carlos,
Pelé, Elis Regina. Muitos artistas. Vários ex-presidentes e governadores. E
agora eu! Quanta honra!