Cinza
Diego Mendes Sousa
Para Jorge Tufic (1930-2018)
Terminei esta manhã
de quarta-feira de cinzas
como a natureza do tempo
apresenta-se agora.
O vento espalha-se frio
é chuva que vem
dizer
que a saudade é
um murmurar melancólico.
Deus começa a chorar, Tufic!
Depois do reinado festivo
do momo
gota a gota, fico a relembrar
os seus versos a uísque
doze anos.
Guardanapos, pássaros, retratos,
noites, varandas, fraturas do Líbano...
Seu ócio secreto!
Os espantos amazônicos!
Vou lendo a tarde extrema
da sua floresta interior
e o coração hermético
dos seus mistérios,
a memória não espera.
A vida ainda é dor,
onde deuses abrigam
lágrimas e lembranças.
Velho amigo boêmio,
Jorge Tufic – derradeiro
Poeta de antanho –
na ressaca deste
e de outros milhentos
silêncios.
Parnaíba, costa do Piauí,
14 de fevereiro de 2018.