Cobra
Norato
Raul
Bopp (1898-1984)
IV
Esta
é a floresta de hálito podre
parindo
cobras
Rios magros
obrigados a trabalhar
A correnteza
se arrepia
descascando
as margens gosmentas
Raízes
desdentadas mastigam lodo
Num estirão
alagado
o charco
engole a água do igarapé
Fede
O vento
mudou de lugar
Um assobio
assusta as árvores
Silêncio se
machucou
Cai lá
adiante um pedaço de pau seco:
Pum
Um berro
avulso atravessa a floresta
Chegam outras
vozes
O rio se
engasgou num barranco
Espia-me um
sapo sapo
Aqui há
cheiro de gente
– Quem é
você?
– Sou a
Cobra Norato
Vou me amasiar
com a filha da rainha Luzia