Amigos do Fingidor

quinta-feira, 12 de maio de 2022

A poesia é necessária?

 

Cobra Norato

Raul Bopp (1898-1984)

 

 

 

IV

 

Esta é a floresta de hálito podre

parindo cobras

 

Rios magros obrigados a trabalhar

A correnteza se arrepia

descascando as margens gosmentas

 

Raízes desdentadas mastigam lodo

 

Num estirão alagado

o charco engole a água do igarapé

 

Fede

O vento mudou de lugar

 

Um assobio assusta as árvores

Silêncio se machucou

 

Cai lá adiante um pedaço de pau seco:

Pum

 

Um berro avulso atravessa a floresta

Chegam outras vozes

 

O rio se engasgou num barranco

 

Espia-me um sapo sapo

Aqui há cheiro de gente

– Quem é você?

 

– Sou a Cobra Norato

Vou me amasiar com a filha da rainha Luzia