Comemora-se
mais um 13 de maio. Libertação dos escravos. Isabel, a redentora, tem gerado
debates acalorados entre os historiadores. Alguns acusam a princesa por não ter
sido mais incisiva e enérgica contra a escravidão. Para a historiadora Mary del
Priore, Isabel era “uma aristocrata sem interesse na política e desconectada da
causa abolicionista.” Pessoalmente, não concordo. Foi ela a responsável por
assinar as leis do Ventre Livre e a Lei Áurea, em 1871 e 1888, respectivamente.
Primeira senadora brasileira e primeira mulher
a assumir uma Chefia de Estado no nosso país. Penso que, de fato, era
abolicionista. Há registros de que financiava com dinheiro próprio não só a
alforria de dezenas de escravos, mas também o Quilombo do Leblon, que cultivava
camélias brancas – a flor-símbolo da abolição.
É claro
que a abolição não foi só um ato consciente da princesa. Houve pressão
internacional, principalmente da Inglaterra. Nisso todos os historiadores
concordam. É também inquestionável que o regime escravocrata era a base da
economia nos tempos do Império. E seu fim foi uma das causas da Proclamação da
República. O Brasil recebia mão-de-obra da Europa e um novo sistema capitalista
estava em implantação. Esse processo de emancipação dos escravos, segundo a
unanimidade de historiadores, já vinha ocorrendo desde 1850.
O fato
é que o 13 de maio já foi mais efusivamente comemorado. Contudo, sofreu mudanças naquilo que a data
simboliza. Afinal, a libertação ocorreu pela caneta – digo, pena – de uma
princesa, branca e aristocrata. O que parece não ser motivo de muito orgulho
por parte de muitos dos cidadãos brasileiros negros.
Um maitre
de um restaurante cinco estrelas paulista relatou nas redes sociais que poucos
negros frequentam o local. O certo é que
não há atualmente nenhum ministro do Supremo negro. Somente um dos generais de
4 estrelas é negro. Apenas quatro senadores homens se autodeclararam negros. No
atual ministério também não há negros.
Nenhum
arcebispo. No Brasil, 56% da população se declara negra, segundo o IBGE. A CNBB
estima que apenas 3% dos padres sejam negros. Conheci um padre negro. Ele me
disse que redentor foi Jesus Cristo, que redimiu a humanidade. Isabel não
deveria ser chamada de redentora. Os negros do Brasil padecem de um racismo
estrutural e injusto. O padre me disse que os negros ainda esperam pela sua
efetiva redenção. E reza por isso. Para ele, Isabel fez a sua parte como
Princesa Regente: assinou a Lei Áurea. E só.