Amigos do Fingidor

terça-feira, 17 de maio de 2022

Princesa Isabel assinou a Lei Áurea

Pedro Lucas Lindoso

 

Comemora-se mais um 13 de maio. Libertação dos escravos. Isabel, a redentora, tem gerado debates acalorados entre os historiadores. Alguns acusam a princesa por não ter sido mais incisiva e enérgica contra a escravidão. Para a historiadora Mary del Priore, Isabel era “uma aristocrata sem interesse na política e desconectada da causa abolicionista.” Pessoalmente, não concordo. Foi ela a responsável por assinar as leis do Ventre Livre e a Lei Áurea, em 1871 e 1888, respectivamente.

 Primeira senadora brasileira e primeira mulher a assumir uma Chefia de Estado no nosso país. Penso que, de fato, era abolicionista. Há registros de que financiava com dinheiro próprio não só a alforria de dezenas de escravos, mas também o Quilombo do Leblon, que cultivava camélias brancas – a flor-símbolo da abolição.

É claro que a abolição não foi só um ato consciente da princesa. Houve pressão internacional, principalmente da Inglaterra. Nisso todos os historiadores concordam. É também inquestionável que o regime escravocrata era a base da economia nos tempos do Império. E seu fim foi uma das causas da Proclamação da República. O Brasil recebia mão-de-obra da Europa e um novo sistema capitalista estava em implantação. Esse processo de emancipação dos escravos, segundo a unanimidade de historiadores, já vinha ocorrendo desde 1850.

O fato é que o 13 de maio já foi mais efusivamente comemorado.  Contudo, sofreu mudanças naquilo que a data simboliza. Afinal, a libertação ocorreu pela caneta – digo, pena – de uma princesa, branca e aristocrata. O que parece não ser motivo de muito orgulho por parte de muitos dos cidadãos brasileiros negros.

Um maitre de um restaurante cinco estrelas paulista relatou nas redes sociais que poucos negros frequentam o local.  O certo é que não há atualmente nenhum ministro do Supremo negro. Somente um dos generais de 4 estrelas é negro. Apenas quatro senadores homens se autodeclararam negros. No atual ministério também não há negros. 

Nenhum arcebispo. No Brasil, 56% da população se declara negra, segundo o IBGE. A CNBB estima que apenas 3% dos padres sejam negros. Conheci um padre negro. Ele me disse que redentor foi Jesus Cristo, que redimiu a humanidade. Isabel não deveria ser chamada de redentora. Os negros do Brasil padecem de um racismo estrutural e injusto. O padre me disse que os negros ainda esperam pela sua efetiva redenção. E reza por isso. Para ele, Isabel fez a sua parte como Princesa Regente: assinou a Lei Áurea. E só.