Pedro Lucas Lindoso
Minha
querida tia Idalina se considera uma amazonense autoexilada em Copacabana.
Dizia que só retornaria a Manaus se fosse pelas asas da VARIG. Relutou durante
anos. Mas finalmente cedeu. Veio passar o Carnaval em Manaus. Depois de muito
tempo sem visitar-nos. Veio prestigiar Mazé Mourão, que foi a Rainha da Bica de
2024, como todos sabem.
Idalina
compareceu também à Banda do Boulevard e deu uma passadinha no Caldeira. Adorou
a folia. Encontrou amigos das antigas.
A
grande novidade foi o Carnaval Amazônico no Studio Cinco. Idalina achou o
máximo. Na terça-feira titia conseguiu ir para o Carnaboi de Parintins. Não se
sabe como conseguiu a passagem. Parece que foi um antigo amor, agora viúvo, que
patrocinou a farra.
Ainda
teve tempo e fôlego para assistir ao desfile das escolas de samba do Rio. Achou
a transmissão da Globo sofrível este ano. Poderiam ter contratado um cast
melhor de apresentadores.
Quando
viu uma Carmem Miranda aparecer nas arquibancadas, no Desfile da Mocidade, foi
logo dizendo:
– Estão
imitando o boi de Parintins. E as luzinhas nas arquibancadas também. Fico
feliz. Amazonenses exportando “know how” para o Rio de Janeiro. Quem diria.
Além
das folias momescas, Idalina enfrentou uma verdadeira epopeia na gastronomia
amazonense. Duas grandes amigas ofereceram tartarugadas. De procedência
legalizada, claro. Foi ainda convidada para uma caldeirada de tambaqui. Recusou
duas feijoadas. Afinal isso é prato típico de carioca. Sentiu falta de doce de
cupuaçu. Não fazem mais?
Uma
amiga que mora na Cachoeirinha soube e fez três quilos de doce. E ainda mandou
uns salames de cupuaçu. Idalina levou tudo para o Rio de Janeiro.
Um
enorme isopor continha, além dos doces de cupuaçu, três quilos de picadinho de
tambaqui congelado, quatro pacotes de farinha do Uarini, cinco quilos de
costelas de tambaqui congeladas. Sardinhas, pacu e jaraqui. Uma manta de
pirarucu seco. Duas garrafas de tucupi. Dois quilos de goma. Uma generosa
quantidade de jambu, já cozido e pronto para o tacacá. E camarão seco. No
isopor tinha ainda pupunha, tucumã, maracujá do mato e banana pacova.
Na
véspera da viagem tia Idalina fez um passeio até o Encontro das Águas. Tudo
muito divertido. Foi na lancha do antigo namorado. O simpático senhor arrumou a
lancha nos conformes e convidou as pessoas certas. Pirarucu de casaca e moqueca
de tambaqui, uma novidade para Idalina, era o carro chefe do almoço na big
lancha. Muita cerveja, whiskey e drinks diversos. Idalina adorou a surpresa.
Quando
chegamos no aeroporto, com aquele enorme isopor, senti um frio na espinha. Deu
cinquenta quilos de excesso. Só mesmo a simpatia de Idalina para conseguir
despachar todo aquele material. Ela volta no ano que vem. Até 2025. Adorei o carnaval
amazônico, disse ela.