Amigos do Fingidor

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

“Até 2025!” Idalina adorou o carnaval amazônico

Pedro Lucas Lindoso

 

Minha querida tia Idalina se considera uma amazonense autoexilada em Copacabana. Dizia que só retornaria a Manaus se fosse pelas asas da VARIG. Relutou durante anos. Mas finalmente cedeu. Veio passar o Carnaval em Manaus. Depois de muito tempo sem visitar-nos. Veio prestigiar Mazé Mourão, que foi a Rainha da Bica de 2024, como todos sabem.

Idalina compareceu também à Banda do Boulevard e deu uma passadinha no Caldeira. Adorou a folia. Encontrou amigos das antigas.

A grande novidade foi o Carnaval Amazônico no Studio Cinco. Idalina achou o máximo. Na terça-feira titia conseguiu ir para o Carnaboi de Parintins. Não se sabe como conseguiu a passagem. Parece que foi um antigo amor, agora viúvo, que patrocinou a farra.

Ainda teve tempo e fôlego para assistir ao desfile das escolas de samba do Rio. Achou a transmissão da Globo sofrível este ano. Poderiam ter contratado um cast melhor de apresentadores.

Quando viu uma Carmem Miranda aparecer nas arquibancadas, no Desfile da Mocidade, foi logo dizendo:  

– Estão imitando o boi de Parintins. E as luzinhas nas arquibancadas também. Fico feliz. Amazonenses exportando “know how” para o Rio de Janeiro. Quem diria.

Além das folias momescas, Idalina enfrentou uma verdadeira epopeia na gastronomia amazonense. Duas grandes amigas ofereceram tartarugadas. De procedência legalizada, claro. Foi ainda convidada para uma caldeirada de tambaqui. Recusou duas feijoadas. Afinal isso é prato típico de carioca. Sentiu falta de doce de cupuaçu. Não fazem mais?

Uma amiga que mora na Cachoeirinha soube e fez três quilos de doce. E ainda mandou uns salames de cupuaçu. Idalina levou tudo para o Rio de Janeiro.

Um enorme isopor continha, além dos doces de cupuaçu, três quilos de picadinho de tambaqui congelado, quatro pacotes de farinha do Uarini, cinco quilos de costelas de tambaqui congeladas. Sardinhas, pacu e jaraqui. Uma manta de pirarucu seco. Duas garrafas de tucupi. Dois quilos de goma. Uma generosa quantidade de jambu, já cozido e pronto para o tacacá. E camarão seco. No isopor tinha ainda pupunha, tucumã, maracujá do mato e banana pacova.

Na véspera da viagem tia Idalina fez um passeio até o Encontro das Águas. Tudo muito divertido. Foi na lancha do antigo namorado. O simpático senhor arrumou a lancha nos conformes e convidou as pessoas certas. Pirarucu de casaca e moqueca de tambaqui, uma novidade para Idalina, era o carro chefe do almoço na big lancha. Muita cerveja, whiskey e drinks diversos. Idalina adorou a surpresa.

Quando chegamos no aeroporto, com aquele enorme isopor, senti um frio na espinha. Deu cinquenta quilos de excesso. Só mesmo a simpatia de Idalina para conseguir despachar todo aquele material. Ela volta no ano que vem. Até 2025. Adorei o carnaval amazônico, disse ela.