Amigos do Fingidor

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Palavras, palavras, palavras

 Pedro Lucas Lindoso

 

Há pessoas que são apaixonados por números. Para esses recomendo o livro O homem que calculava. De Malba Tahan. Eu até gosto dos números. Mas a minha paixão são mesmo as palavras. Gosto de analisá-las. Tanto na etimologia como na morfologia. E, claro, palavras formam frases. Ou versos, que formam poemas. E por fim, os livros, uma das minhas grandes alegrias nessa vida.

As palavras pertencem a uma língua. Tenho o privilégio da falar e conhecer algumas, além do português. No português elas são mais doces. Idioma materno em que ouvi as cantigas de ninar da boca de minha mãe, de minhas avós, tias e babás.

A língua italiana, que aprendi ainda adolescente, é muito sonora. O francês também é um idioma lindo. As canções em francês são especiais nas vozes de Aznavour e Edith Piaf.

A vida me fez estudar o inglês com mais afinco. Eu gosto de me comunicar na língua de Shakespeare, Poe e Walt Whitman. Depois do português é a língua que mais conheço. E como é difícil ter proficiência e competência em qualquer idioma!

Observo as mudanças. As línguas mudam no tempo e no espaço. O inglês falado em Ohio, nos Estados Unidos, nos anos setenta, quando eu fiz intercâmbio, é diferente do falado nos filmes e “lives” da internet de nossos dias.

E o nosso português também sofre mudanças. Algumas questionáveis, que não passam, no meu sentir, de modismos sem qualquer propósito. Como a tal linguagem neutra. Acredito que não vai “pegar”. Simplesmente porque não nasceu da boca do povão. É o que penso.

Outro dia, fui instado a falar sobre literatura para um simpático grupo de estudantes. Havia mais moças que rapazes. Comecei cumprimentando-os. Bom dia a todos! Fiz uma pequena pausa. E ouvi, bem baixinho: todos e todas!

Era o que eu precisava para começar minha fala. Aprendi com dona Osmarina, minha professora de português em Brasília, que todos nesse caso se referia a todos, independentemente de sexo ou orientação sexual. E que todos e todas seriam um pleonasmo. E essa coisa de linguagem neutra, como disse e repito, vai passar. No Português há palavras neutras como criança por exemplo. Ninguém diz o criança para meninos e a criança para meninas. Podemos citar muitos outros exemplos. Essa discussão é infinita e não cabe numa simples crônica. Reconheço, entretanto, que usar o português corretamente é mais difícil para as mulheres. Agradecer, por exemplo. Homens devem dizer obrigado. Mulheres, obrigada. Há mulheres que agradecem errado. Não foram alunas de dona Osmarina. Como disse Shakespeare em Hamlet: “words, words, words”. Palavras, palavras, palavras.