Pedro Lucas Lindoso
Há
pessoas que são apaixonados por números. Para esses recomendo o livro O
homem que calculava. De Malba Tahan. Eu até gosto dos números. Mas a minha
paixão são mesmo as palavras. Gosto de analisá-las. Tanto na etimologia como na
morfologia. E, claro, palavras formam frases. Ou versos, que formam poemas. E
por fim, os livros, uma das minhas grandes alegrias nessa vida.
As
palavras pertencem a uma língua. Tenho o privilégio da falar e conhecer algumas,
além do português. No português elas são mais doces. Idioma materno em que ouvi
as cantigas de ninar da boca de minha mãe, de minhas avós, tias e babás.
A língua
italiana, que aprendi ainda adolescente, é muito sonora. O francês também é um
idioma lindo. As canções em francês são especiais nas vozes de Aznavour e Edith
Piaf.
A vida
me fez estudar o inglês com mais afinco. Eu gosto de me comunicar na língua de
Shakespeare, Poe e Walt Whitman. Depois do português é a língua que mais
conheço. E como é difícil ter proficiência e competência em qualquer idioma!
Observo
as mudanças. As línguas mudam no tempo e no espaço. O inglês falado em Ohio,
nos Estados Unidos, nos anos setenta, quando eu fiz intercâmbio, é diferente do
falado nos filmes e “lives” da internet de nossos dias.
E o
nosso português também sofre mudanças. Algumas questionáveis, que não passam,
no meu sentir, de modismos sem qualquer propósito. Como a tal linguagem neutra.
Acredito que não vai “pegar”. Simplesmente porque não nasceu da boca do povão.
É o que penso.
Outro
dia, fui instado a falar sobre literatura para um simpático grupo de
estudantes. Havia mais moças que rapazes. Comecei cumprimentando-os. Bom dia a
todos! Fiz uma pequena pausa. E ouvi, bem baixinho: todos e todas!
Era o
que eu precisava para começar minha fala. Aprendi com dona Osmarina, minha
professora de português em Brasília, que todos nesse caso se referia a todos,
independentemente de sexo ou orientação sexual. E que todos e todas seriam um
pleonasmo. E essa coisa de linguagem neutra, como disse e repito, vai passar.
No Português há palavras neutras como criança por exemplo. Ninguém diz o
criança para meninos e a criança para meninas. Podemos citar muitos outros
exemplos. Essa discussão é infinita e não cabe numa simples crônica. Reconheço,
entretanto, que usar o português corretamente é mais difícil para as mulheres.
Agradecer, por exemplo. Homens devem dizer obrigado. Mulheres, obrigada. Há
mulheres que agradecem errado. Não foram alunas de dona Osmarina. Como disse
Shakespeare em Hamlet: “words, words, words”. Palavras, palavras, palavras.