Pedro Lucas Lindoso
Para se
aprender uma língua estrangeira é necessário estudá-la diariamente. E ter, no mínimo, três aulas por semana. Ou
seja, 180 minutos de aulas. Pelo menos, durante dois anos.
Nas
escolas públicas regulares, e mesmo nas privadas, a língua estrangeira aparece,
na grade horária, geralmente, duas vezes por semana. Aulas de 50 minutos. 10
minutos para chamada e 10 para acalmar, no mínimo, 30 adolescentes cheio de
hormônios e bagunceiros. Ou seja, temos meia hora de aula.
Com
somente uma hora líquida por semana e sem estímulo para estudá-la não se
aprende inglês, nem francês ou espanhol.
Na
década de 1970, a Professora Nilce Galante, então coordenadora de Línguas
Estrangeiras da Rede Pública de Brasília, montou o pioneiro Centro Interescolar
de Línguas do Distrito Federal. A Professora Nilce teve todo e pleno apoio do
então Secretário de Educação e Cultura de Brasília, Embaixador Wladimir
Murtinho.
O
projeto foi exitoso. Há centros de línguas públicos em todo o Distrito Federal.
O DF é a unidade federativa onde há o maior índice de brasileiros bilíngues,
segundo o IBGE.
Participei
desse projeto como jovem professor de inglês. Ensinava-se também francês e espanhol.
Toda sexta havia 15 minutos de música, geralmente sugeridas pelos alunos.
Cansados
de boleros e tangos, uma turma de Espanhol ensaiava a conhecida canção “La
Cucaracha” (“A barata”) . Trata-se de tradicional canção folclórica, do gênero
corrido, bastante popular no México. O refrão é bem conhecido: “La cucaracha,
la cucaracha / Ya no puede caminhar / Porque no tiene, porque le falta / Una pata
para andar”.
Nos
anos de 1970 não havia internet. Portanto, não havia a expressão “viralizar”.
Mas as coisas se espalhavam boca a boca, em festas, reuniões e encontros. Uma
paródia inconveniente para a severa censura vigente e oficial modificava o
recorrente refrão para: “La cucaracha, la cucaracha / Ya no puede caminhar / Porque
no tiene, porque le falta / marijuana que fumar”.
Mesmo a
direção e os professores de Espanhol explicando que só ensinavam e cantavam a
versão original, com patas e patitas, a música foi proibida na escola. Não foi
pelo STF. Foi pelo DPF. Departamento de Policia Federal.
Com a
liberação de até 40 gramas de porte da cannabis, inclusive para cucarachas, seria
a paródia censurada nos dias atuais? Naquela época, censurava-se até as patas
da barata.