Amigos do Fingidor

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Basta chover!

 Pedro Lucas Lindoso

 

Tia Idalina foi passear na Europa. Está passando uns dias na Itália. Ela e dona Zildinha, companheira de viagem e amiga das antigas. Viajaram do Rio para Roma pela ITA, empresa aérea estatal italiana, sucessora da falida ALITALIA.

Inadvertidamente, viajaram no dia 15 de agosto. Tia Idalina achou tudo muito estranho naquele voo. A passagem foi bem em conta. Excelente promoção. O voo, entretanto, estava meio vazio. Na tripulação, aparentemente, havia mais brasileiros do que italianos.

Vez por outra ouvia-se a expressão “ferragosto”. Nem ela nem dona Zilda sabiam o significado.

Ao chegar em Roma notaram que o aeroporto estava com pouco movimento. Algumas lojas inexplicavelmente fechadas. E novamente ouviu-se a palavra “ferragosto”.

Dona Zilda entende italiano. Mas não fala. Tia Idalina se arvora a falar qualquer língua. Inglês, Francês, Espanhol e também o Italiano. Fala, mas não entende. Pergunta, mas não compreende as respostas.

Nesse ponto as duas se completam. Idalina, com toda cara de pau que Deus lhe deu, perguntou ao funcionário da ITA o que era esse tal de “ferragosto”. O rapaz sorriu e disse:

– 15 de agosto. Ninguém trabalha na Itália nesse dia. Aliás poucos trabalham em agosto. Todos tiram férias aqui na Itália. Mais especialmente nesse dia, 15 de agosto, exatamente no meio do mês. “Tutto chiuso”. Tudo fechado. Até hospital fecha. É melhor não morrer nesse dia. Deixar para falecer no dia seguinte. É “ferragosto”.

Idalina virou-se para Zildinha e disse:

– É “ferragosto” e nós estamos ferradas. Veja aí no professor Google a origem disso. Zilda imediatamente deu uma “googada”. E explicou:

– Tem origem na Feriae Augusti, festa do imperador Augusto. Um decreto imperial fez do dia 15 de agosto um dia de descanso após semanas de muito trabalho na agricultura.

Com o tempo, tornou-se mais do que apenas um feriado.  Na verdade, ele marca o auge das férias de verão na Itália, com muitos negócios, escritórios e até cidades inteiras fechando suas portas, tirando férias e descansando.

Estamos acostumados. No Rio de Janeiro fecha tudo no Carnaval. No Nordeste, no São João. Na Bahia pouco se trabalha de dezembro até o Carnaval. Tem sempre uma festa popular. E em Manaus, Idalina?

– O caboclo não vai trabalhar. Não sai de casa. Basta chover!