Pedro Lucas Lindoso
Tia
Idalina foi passear na Europa. Está passando uns dias na Itália. Ela e dona
Zildinha, companheira de viagem e amiga das antigas. Viajaram do Rio para Roma
pela ITA, empresa aérea estatal italiana, sucessora da falida ALITALIA.
Inadvertidamente,
viajaram no dia 15 de agosto. Tia Idalina achou tudo muito estranho naquele
voo. A passagem foi bem em conta. Excelente promoção. O voo, entretanto, estava
meio vazio. Na tripulação, aparentemente, havia mais brasileiros do que
italianos.
Vez por
outra ouvia-se a expressão “ferragosto”. Nem ela nem dona Zilda sabiam o
significado.
Ao
chegar em Roma notaram que o aeroporto estava com pouco movimento. Algumas
lojas inexplicavelmente fechadas. E novamente ouviu-se a palavra “ferragosto”.
Dona
Zilda entende italiano. Mas não fala. Tia Idalina se arvora a falar qualquer
língua. Inglês, Francês, Espanhol e também o Italiano. Fala, mas não entende. Pergunta,
mas não compreende as respostas.
Nesse
ponto as duas se completam. Idalina, com toda cara de pau que Deus lhe deu,
perguntou ao funcionário da ITA o que era esse tal de “ferragosto”. O rapaz
sorriu e disse:
– 15 de
agosto. Ninguém trabalha na Itália nesse dia. Aliás poucos trabalham em agosto.
Todos tiram férias aqui na Itália. Mais especialmente nesse dia, 15 de agosto,
exatamente no meio do mês. “Tutto chiuso”. Tudo fechado. Até hospital fecha. É
melhor não morrer nesse dia. Deixar para falecer no dia seguinte. É
“ferragosto”.
Idalina
virou-se para Zildinha e disse:
– É
“ferragosto” e nós estamos ferradas. Veja aí no professor Google a origem
disso. Zilda imediatamente deu uma “googada”. E explicou:
– Tem
origem na Feriae Augusti, festa do imperador Augusto. Um decreto
imperial fez do dia 15 de agosto um dia de descanso após semanas de muito
trabalho na agricultura.
Com o
tempo, tornou-se mais do que apenas um feriado.
Na verdade, ele marca o auge das férias de verão na Itália, com muitos
negócios, escritórios e até cidades inteiras fechando suas portas, tirando
férias e descansando.
Estamos
acostumados. No Rio de Janeiro fecha tudo no Carnaval. No Nordeste, no São
João. Na Bahia pouco se trabalha de dezembro até o Carnaval. Tem sempre uma
festa popular. E em Manaus, Idalina?
– O
caboclo não vai trabalhar. Não sai de casa. Basta chover!