Amigos do Fingidor

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A poesia é necessária?

 

Mar da memória

Sebastião Norões (1915-1972)

 

Eu quero é o meu mar, o mar azul.

Essa incógnita de anil que se destrança

em ânsias de infinito e me circunda

em grave tom de inquietude langue.

 

O mar de quando eu era, não agora.

Quando as retinas fixavam tredas

a incompreensível mole líquida e convulsa.

E o pensamento convidava longes,

 

delimitava imprevisíveis rumos,

viagens de herói e de mancebo guapo.

Quando as distâncias fomentavam sonhos.

 

Rebenta em mim essa aspersão tamanha

que a imagem imatura concebeu

de quando o mar era meu, o mar azul.