Leyla Leong
Na época do Natal a igreja armava um grande presépio para festejar o nascimento do Niño Dios.
Era um presépio fantástico onde além das figuras tradicionais dos carneirinhos, Nossa Senhora e os Reis Magos havia onças, macacos, formigas, anacondas, borboletas, bares, seringueiros, caçadores, caminhões carregados de bananas em estradas poeirentas, camponeses, indígenas e uma infinidade de elementos da vida cotidiana daquele lugar perdido no mapa.
Era o Frei Barbicha, capuchinho espanhol, contextualizando o nascimento do Menino Jesus, para não deixar que os fiéis se bandeassem para as igrejas evangélicas que começavam a surgir nas florestas.
Quando batia seis horas da tarde, pegava meu véu de filó para assistir à novena.
Antes de voltar para casa parava diante daquele presépio enorme para cumprir a que viera: embaralhar as peças do presépio do Frei.
Punha os caminhões para trafegar nos lagos de espelho, as onças dentro dos bares, camponeses se beijando, o Menino Deus brincando com as serpentes.
Um dos espantos da minha infância, fora as histórias que o nosso cozinheiro Barba Azul contava e da asfixiante proximidade com a floresta, era a “Vaca Loca”, uma tradição dos pueblos colombianos representada no Natal, na praça em frete à igreja.
A “Vaca Loca” tinha olhos de fogo e corria atrás das crianças que choravam enquanto os adultos dançavam.
O medo também fazia parte dos Natais da minha infância.