Amigos do Fingidor

terça-feira, 27 de julho de 2010

O estranho caso da Vila da Barra – 10

Marco Adolfs


– Ah! esse Mourão... finalmente alguém que acredita. – Comentei. – ...E vamos precisar de potes! – observei.

– Potes?

– Potes de cerâmica para manter a umidade das sementes e protegê-las do ressecamento excessivo – expliquei. – Afinal, elas farão viagem longa – finalizei, pensando com uma certa incerteza sobre essa empreitada absurda na qual havia me metido.

Passei cerca de uma semana descobrindo os meandros daquele obscuro lugarejo. Enquanto passeava, o senhor Lourenço tentava arranjar uma grande canoa para podermos ir em busca daquelas árvores que produziam o látex milagroso. Os potes que precisaríamos para acondicionar as sementes já haviam sido comprados e estavam devidamente escondidos na casa do senhor Lourenço. Era um total de vinte e cinco potes, grandes e compridos, que o português adquirira com a desculpa de que seriam todos quebrados e aproveitados para assoalhar parte de sua casa de terra batida. Eu, portanto, como não tinha mais nada a fazer a não ser esperar, saía a andar por aquelas ruas lamacentas e esburacadas tentando esquecer um pouco essa loucura toda.

O que eu pude observar de mais interessante naquele lugar é que não havia sequer um ordenamento para aqueles trechos quase que tomados pela vegetação e que os habitantes teimavam em chamar de ruas. E, perguntando de um e de outro que encontrava pelo caminho, os nomes daquelas ruas, me foram fornecidas as denominações mais estapafúrdias: rua da Campina, Travessa da Estrela, do Sol, da Lua, rua da Palma, e outras. Um dia, enquanto passeava e indagava sobre o comércio, tomei um caminho paralelo à única praça do local com o objetivo expresso de finalmente atingir a rua Liberal, no bairro de São Vicente de Fora.

(Continua na próxima terça)