Amigos do Fingidor

terça-feira, 13 de julho de 2010

O estranho caso da Vila da Barra – 8

Marco Adolfs


– Infelizmente, eles não me informaram – disse. – Mas estão ansiosos por essas sementes – continuei. Parece-me que construíram um viveiro de mudas numa ilhota perdida do Pacífico. E de lá, quando as mudas estiverem fortes seguirão viagem até sabe-se lá qual lugar. O fato é este, senhor Lourenço – concluí.

– Mas isso é roubo! Se os vereadores e o governador do Grão-Pará descobrirem, haverá uma confusão dos diabos – rosnou o senhor Lourenço. – E para um português como eu o momento não está nem para abrir a boca – completou, com os olhos arregalados.

– Ora, seu Lourenço, o império ainda passa por um processo de normalização política e não tem total controle sobre esse imenso país. – disse. Os brasileiros estão atentos a outras coisas e ninguém vai perceber nada neste mundo de selva fechada – finalizei, convencendo o português.

– Mas onde pegaríamos essas tais sementes e como faríamos o transporte e a saída delas, do país? – perguntou o português.

– Onde pegar é com o senhor – fiz observar, enfático. – E temos que encontrar logo – continuei. Não se pode perder tanto tempo com dúvidas, senhor Lourenço. Existem fortes indícios de que a Inglaterra, através de uma missão científica autorizada, já esteja com um carregamento dessas sementes pronto para zarpar pelo Solimões indo em direção ao Peru e, de lá, saindo por terra, finalmente atingindo o Pacífico.

– Nossa! Cruz credo! – exclamou o português, estupefato. – Esses ingleses estão sempre envolvidos com tudo – observou.

– Mas os homens da companhia estão providenciando que essa expedição dos ingleses malogre – disse. – Parece que os ingleses estão querendo plantar essas sementes na Malásia e assim dominar o mercado mundial, a partir dali.


(Continua na próxima terça)