Amigos do Fingidor

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Câncer: a partitura desarmônica da vida

João Bosco Botelho


            É importante assinalar que essas doenças – os cânceres – constituem grupos complexos de enfermidades, alguns muito diferentes de outros, existem no planeta muito antes do aparecimento da espécie Homo. Na realidade, os cânceres alcançam todos os seres multicelulares, dos humanos aos vegetais.

É provável que as enfermidades cancerosas sejam o saldo oriundo dos muitos distúrbios do equilíbrio celular, provocados por múltiplos fatores internos e externos ainda desconhecidos. Funcionaria, mais ou menos, assim: cada ser humano teria o seu próprio teclado de informações genéticas, produzindo partituras harmoniosas e seqüenciadas, em estrito equilíbrio dinâmico com os elementos circundantes externos. Em determinado momento, o teclado, ao ser tocado de forma incorreta, possivelmente por influência de um ou mais fatores extrínsecos, forneceria um som estranho à partitura da organização da vida, dando como resultado o câncer.

            Estatisticamente, é pouco provável que as incontáveis combinações físico‑químicas efetuadas simultaneamente, a cada minuto, não comportem erros que produziriam cânceres. A grande dúvida é saber por que as defesas imunológicas do corpo conseguem bloquear a maior parte dos cânceres e perde a capacidade para outros.

            As experiências realizadas sob rigoroso controle comprovam que, quando são injetadas dez células cancerosas em animais de laboratórios, não ocorre nenhuma alteração. Porém, se a quantidade é elevada para dez mil, todos morrem. Este fato pode explicar porque nas necropsias de doentes falecidos de outras causas, são comumente encontrados vários tipos de cânceres não diagnosticados no exame clínico.

            Muitos dos mais respeitados cancerologistas, como o pesquisa­dor francês Dominique Stehelin, um dos responsáveis pela descoberta do oncogene (um dos fatores intrínsecos contidos no teclado do piano) afirma que os cânceres são as doenças mais complicadas do homem.

            Alguns componentes da fumaça do tabaco alteram certos genes causando o câncer pulmonar. Contudo, uma pessoa pode fumar a vida inteira e não morrer de câncer. Como se o seu teclado, por mais que seja estimulado, não fornecesse o som desarmônico.  

            Mergulhadas nas incertezas do tratamento, as políticas públicas de saúde, no mundo, estão voltadas às campanhas de alertas contra os fatores externos (relação entre cigarro e câncer do pulmão) e ao diagnóstico precoce nos cânceres localizados nas áreas anatômicas de fácil acesso ao exame médico (pele, boca e colo uterino).