Amigos do Fingidor

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Magia e Sedução

Jorge Tufic


Cronologicamente, deve ter sido em 1948 que tive meu primeiro encontro com Almir Diniz, na redação da “Folha do Povo”, em Manaus. E já nessa época ambos assinávamos uma coluna nesse jornal do combativo Francisco Rezende. Transitávamos da crônica ao soneto, sob os olhares compassivos do mestre Adaucto Rocha, um paraibano que foi colega de Café Filho na imprensa de João Pessoa, agora a serviço da nossa como Redator Chefe. Uma época turbulenta, pois tivemos a oportunidade de assistir aototal empastelamento da gráfica, seguido de incêndio, dano jamais reparado pelo Governo de Leopoldo Amorim da Silva Neves.

Mas nada impedira que seguíssemos em frente, Almir para “O Jornal”, dos Archer Pinto, e eu para “O Tempo”, semanário fundado por mim e o jornalista Julian Flores Lopes. A poesia, contudo, era o que mais nos fazia sonhar, principalmente através dessa forma fixa imortalizada por Camões e Petrarca. Tanto que, sessenta anos após, organizei e publiquei, em coautoria com Gaitano Antonaccio, uma espécie de florilégio sob o título de O Soneto no Amazonas, onde figuram textos de autores amazonenses e duas longas pesquisas que fizemos sobre as origens do gênero nas terras de Makunaíma. O que vale dizer, vencemos os anos acreditando na “chave de ouro”, enquanto os modernistas da primeira hora esnobavam de Bilac e a geração de 45, através de Lêdo Ivo, trazia-a de volta sob novas roupagens, sempre bem recebidas pelos leitores brasileiros.

Este livro, Magia e Sedução, composto em 2003, dá-nos mais uma prova da dedicação do autor – hoje com várias obras publicadas e uma estante cheia de diplomas e títulos conquistados em certames nacionais, a exemplo do Prêmio Esso de Jornalismo – quer aos temas iniciais de sua inspiração lírica, quer aos difíceis quatorze versos que fazem de nós aqueles eternos e contemplativos ouvintes da Via Lactea.

Juízos de valor? Ao invés, degustem os leitores daquilo que ainda podemos definir como poemas de amor de todos os tempos, tal fora um dos prazeres estéticos de Walmir Ayalla, ao nomear as seletas de conteúdo romântico. Poemas de amor que servem, contudo, para uma bem humorada excursão pelos domínios do corpo e da alma da mulher, este ser que irritara os filósofos com seus “cabelos longos e idéias curtas”.

Deste modo singular, a presença do soneto na poesia universal só encontra ecos perenes na misteriosa incorporação dos segredos femininos, sugeridos ou antevistos por trás da magia, do fascínio e do encantamento que sublimam os tercetos de Dante, levam ao êxtase a Bossa Nova de Vinicius de Moraes e, aqui, nesta coletânea de sonetos, fazem vibrar as cordas da lira deste poeta da Academia Amazonense de Letras, do Chá do Armando, do Clube da Madrugada e das praias de Icaraí, em Fortaleza, Ceará.