Amigos do Fingidor

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cérebro: o elo final entre evolução e consciência

João Bosco Botelho


O homem, ao longo do seu processo de evolução, tem procurado a natureza das emoções. Existe farta evidência, a partir dos primeiros registros, em torno de 5.000 anos, que a busca foi feita em duas dimensões: a sagrada, sagrando coisas e homens; a profana, buscando a ressonância das idéias na realidade.

No espaço sagrado, a divindade passou a ser a força motriz de todos os sentimentos. A vontade divina era a grande dominadora das emoções. Restava aos homens cumprir fielmente o determinismo inexorável, vindo do céu, obedecendo às ordens dos representantes na terra do poder transcendente, e agradecer, com oferendas e ritos de louvor, a vida vivida. Na dimensão profana, o homem iniciou a longa caminhada para desvendar o próprio corpo escondido atrás da pele, como primeiro momento para saber por que chorava, ria, amava e odiava.

No Antigo Testamento (AT) existem citações metafóricas do coração como sede da vida física (Ge 18, 5; At 14, 17), da tristeza (Dt 15, 10), da alegria (Dt 28, 47) e do medo (Dt 20, 3). O cristianismo não fez inovações e manteve a mesma certeza de que Deus se comunica com os homens através do coração (Mc 2, 6 8; Lc 3, 15; 2Co 2, 4).

O islamismo foi mais longe e estabeleceu a relação com a presença do Espírito sob o duplo aspecto de Conhecimento e Ser. O coração passou a representar o órgão da intuição (al kashf = revelação, ato de levantar o véu) e o ponto de identificação (wajd) com o Ser (al wujud).

No espaço profano, Hipócrates e os seus seguidores, no século 4 a.C., confrontando as afirmações sagradas, asseguraram ser o cérebro o centro das emoções: “Algumas pessoas dizem que o coração é o órgão com o qual pensamos e que ele sente dor e ansiedade. Porém, não é bem assim: os homens precisam saber que é do cérebro e somente do cérebro que se originam os nossos prazeres, alegrias, risos e lágrimas. Por meio dele, fazemos quase tudo: pensamos, vemos, ouvimos e distinguimos o belo do feio, o bem do mal, o agradável do desagradável...O cérebro é o mensageiro da consciência...O cérebro é o intérprete da consciência...”

A extraordinária beleza da “Criação do Homem”, pintada por Michel¬angelo (1475 1564), no teto da Capela Sistina, no Vaticano, é uma das mais sublimes manifestações na arte do deslocamento do coração, como o centro do corpo, para o cérebro. O afresco que retrata o momento em que o homem recebeu de Deus a inteligência tem a perfeita forma do sistema nervoso central.

As pesquisas da neurociência, nos últimos anos, são suficientes para sustentar a veracidade da afirmação de Hipócrates e dos seus discípulos: o cérebro é o elo final entre a evolução e a consciência.