Jorge Tufic
II – POESIA
Ela
vem do grego, poiesís, ‘poesia’,
poíema. - atos, ´poema, poesia = poema’ (sendo o épico épos, o lírico mélos);
poíetes ‘poeta’; poiétria, ‘poetisa’;
poíetikós, ‘poético’; poietikeúomai,
poetar, poetizar, são co-radicais derivados do verbo gr. poiéõ, fazer;
fabricar, executar, criar, produzir; agir, ser eficaz; compor um poema;
conseguir, núcleos semânticos que, de um modo geral, coexistem nas palavras de
início referidas (Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 16, pag. 9017). Em
latim varias palavras dessa origem ocorrem tomadas por empréstimo. Amplia-se,
com isso, o território semântico do ‘fazer’, desdobrando-se para artífice,
opífice; aplica-se o termo poético como relativo à poesia; poeto, poêtor passa
a ter o significado de depoente. Com vários sentidos no grego, poiesís, poesia, é empregada, em
Aristóteles, como ‘criação’, em oposição a pràksis,
o agir, a ação; em Platão, como gênero poético, em que he poietike ekatéra significa
‘os dois gêneros poéticos’, isto é, a tragédia e a comédia.
Tentativas
de definição de poesia se acumulam posteriormente, e ao nível da descrição da
linguagem valorizam e dão autonomia à palavra poética. No Renascimento, a arte
poética, influenciada por Aristóteles, situa-se mais próxima da filosofia que
da história. A teoria dos poetas românticos, baseada na existência de um
conteúdo psicológico, coloca sua matéria prima na vida dos sentimentos e das
emoções. Com Mallarmé, “a poesia é a expressão pela linguagem humana, elevada
ao seu ritmo essencial, do sentimento misterioso dos aspectos da existência:
ela dota assim de autenticidade nossa vida e constitui a única tarefa
espiritual”. Para Novalis, “a poesia é a religião original da humanidade”. “De
modo geral, as concepções românticas de poesia não separavam o universo vivido
do universo poético. A poesia era dada como imaginação projetiva, captação
imediata das emoções e apreensão vivida dos objetos particulares. Os poetas,
vinculados à ideologia individualista do liberalismo burguês, davam à poesia a
alta função de revelar a verdade humana em sua originalidade” (idem, pág.
9018).
A Concepção retórica. “Na Idade Média a
arte de fazer versos era denominada segunda retórica, e os poetas, retóricos.
Dante resumiu toda a tradição medieval na sua lapidar definição de poesia:
“fictio rethorica in musica posita” (ficção retórica musicalmente composta).
Essa concepção, em formas mais refinadas, sobreviveu até nossos dias, presente
quer na resposta de Mallarmé a Degas (“a poesia se faz com palavras e não com idéias”),
quer nas teorias linguísticas ou semiológicas mais recentes. Por essa via,
chega-se ao formalismo linguístico, para o qual a poesia é uma máquina de
combinações experimentais de palavras, de que resultam significados novos.
Dentro dessa perspectiva, não há nenhuma experiência pré-poética capaz de
mobilizar a atividade produtora de poesia. Uma série de signos, caprichosamente
combinados pelo poeta, é bastante para criar o objeto-poema (Ib., pág. 9018).
A Concepção lúdica. “A palavra ritmada e
cantada, ligada ao ritual mágico, tinha o sentido de um jogo sagrado. Com o
passar do tempo, perdeu seus compromissos com o sagrado, e o ludismo que nela
ainda se pode encontrar fica ao nível da palavra, no jogo de suas virtualidades
semânticas e sonoras. As unidades materiais desse jogo – as palavras – já não
vêm carregadas de seu poder mágico-encantatório. Aspiram a ser tão somente
peças de um jogo combinatório que se arma e desarma segundo leis descobertas no
próprio ato de fazer.” (Ib., pág. 9018).
Registram
ainda as Enciclopédias e os tratadistas que nossas teorias são limitadas.
Tampouco as metodologias utilizadas, a exemplo da fenomenológica, que busca
localizar a poesia em quaisquer dos “estratos ou camadas estruturais,
verticalmente articuladas”, conseguem atingir seu pleno objetivo. A experiência
que resulta de tais pesquisas remete, pelo contrário, à obtenção de um número
cada vez maior de camadas para que se tome consciência da totalidade poética.