Zemaria Pinto
Safira
Irmã de minha primeira
mulher, Safira foi o arquétipo das cunhadas que vieram depois. Não sei se
Nelson Rodrigues pensou nisso, mas o homem deveria casar com a cunhada, nunca
com a esposa. O infeliz só percebe isso quando já está preso pelo emaranhado
das duas. O primeiro contato sensual com Safira foi justo no dia do casamento:
ela meteu a coxa direita entre minhas coxas, ao abraçar-me – na frente de
todos. Não sei se alguém percebeu o gesto infame, mas foi aí que comecei a
prestar atenção em Safira, em sua bunda empinada, em seus seios pequenos e
rijos e sobretudo naquela boca desmedida. Os lábios de Safira eram indecentes:
grossos, vermelhos, salientes, ressaltados do rosto magro. Permanentemente
entreabertos, deixavam presumir a língua úmida convidando à luxúria. O nosso
caso durou enquanto durou o casamento com Cláudia e acabou pelo mesmo motivo: cansaço.
Safira sofria junto com Cláudia. Minha mulher jamais desconfiou – ou então
fingiu muito bem. Safira chamegava comigo em público e isso era muito natural:
a cunhadinha bem-amada...