Amigos do Fingidor

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Linguagens e a crítica da proteção pura



João Bosco Botelho
         
É precisamente na convergência entre o físico presente na estrutura celular e o crivo do sócio-genético, dando forma à função e vice-versa, que ocorre a maravilhosa e intrigante materialidade da ideia invisível, imponderável, mas capaz de nominar, desvendar, criar e transformar o objeto.
Por essa razão não existe discurso sem a linguagem impregnada do saber acumulado historicamente. No contexto da multidisciplinaridade, as gramáticas são ideológicas, porque expressam um tipo de posse do real e as características pessoais que marcam profundamente nos corpos os prazeres e as dores sentidos e imaginados.
Por essa razão, a busca da verdade é construída no conflito entre o objetivo e o subjetivo (de certa forma, se confundindo com o sagrado e o profano), refletindo as múltiplas leituras das coisas numa determinada temporalidade. A variante do tempo se impõe por estar contida na essência que torna perceptível a forma e a função do ser vivente.
O objetivo primário da ação, a ideia seguida do movimento do corpo, motivada na mensagem sócio-genética, por si mesmo, ao mais fundamental sentimento mantenedor da sobrevivência: a cooperação unindo todos para fugir da dor e desfrutar do maior prazer. Algo que poderia ser chamado de crítica da proteção pura.
Sem exceção, os seres vivos desejam o abrigo protetor. Não se trata, exclusivamente, do viver. O morrer pode representar, em certos instantes, o ato cooperativo dominante e, nesse caso, a morte representará a proteção pura.
O anseio para compreender as diferenças entre o constatado pelos sentidos (objetivo) e a ficção propiciou interdependência muito forte entre as partes. Em certas etapas do processo, é impossível saber onde começa a realidade e termina a ficção.
Não existiram partidas independentes. A realidade vivida pelos humanos com os outros animais, dividindo o meio ambiente comum, contribuiu para fortalecer profundas imitações simbólicas, presentes como marcas profundas do tempo passado, na consciência coletiva.
Muitos inventos e expressões estéticas, no passado e presente, projetados pelo aprimoramento da técnica, acabam sendo facilmente identificadas no meio comum partilhado.
O ímpeto para reproduzir os elementos visíveis, tirando deles a utilidade para sustentar o conforto (aqui compreendido como a fome e a sede saciadas, o alívio da dor e o abrigo contra o frio e o calor), influenciou as primeiras interações entre pensamento, ação e necessidade social.
O fato de os nossos ancestrais longínquos terem aprimorado as cópias do perceptível na natureza circundante, animais e coisas, nos abrigos das cavernas, há milhares de anos, representa a certeza da profunda coerência entre as formas e as funções nos corpos.
          Apesar de os estudos da anatomia e fisiologia terem desvendado aspectos importantes da forma e da função do cérebro relacionadas às linguagens, estamos longe, muito longe, de compreender a maior parte das dúvidas. A principal barreira é a fantástica multiplicidade das formas, nos seres viventes, gerando funções semelhantes. Apesar de os homens e as mulheres possuírem áreas anatômicas semelhantes, relacionadas às linguagens, jamais se expressam igualmente.
O produto final das linguagens é consequente aos vetores que modulam os componentes extrínsecos (natureza, social e História) e os intrínsecos (padrões sócio-genéticos herdados) e estruturam a crítica da proteção, capaz de impelir os seres de todas as naturezas a fugir da dor e buscar o prazer.