Amigos do Fingidor

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Lábios que beijei 37


Zemaria Pinto
Dafne



Quando contei a Dafne a origem de seu nome ela entendeu porque eu busquei me aproximar dela. Era como se eu a procurasse há muito tempo, e ela, perdida, esperasse por esse reconhecimento. Dafne era um modelo de ninfa renascentista: alta, branca, loura e olhos azuis de infinita tristeza, sempre escondidos atrás de severos óculos escuros. Eu, um velho fauno, desaparecia perto dela. Quando começamos a sair, ela gentilmente aboliu os saltos altos, o que nos deixava uma diferença de não mais que uns dez centímetros. Foram apenas alguns meses, até que ela resolvesse reatar com o marido – senhor, talvez, de uma daquelas ilhas que fundavam a Grécia Antiga. A sofrida e meiga Dafne ainda hoje me visita a lembrança, com seu corpo rijo, suas proporções perfeitas e sua mítica melancolia.