Amigos do Fingidor

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Próspero mingauzeiro



Pedro Lucas Lindoso


Maria de Nazareth, com th, conhecida como dona Naná, ou simplesmente Naná, mas só para os muito íntimos, é uma cabocla balzaquiana de bem com a vida. Ex-moradora do Igarapé do 40, hoje tem uma habitação digna e respeitável em um dos novos conjuntos no centro da cidade.

Ultimamente, Naná só fala sobre a abertura do Mercadão. Depois de anos em processo de restauro, finalmente o nosso mercado Municipal Adolpho Lisboa vai ser reaberto ao público, em outubro próximo. Naná tem um sentimento atávico e familiar com o Mercadão. Seu pai e seu avô foram comerciantes no local.

Naná está ansiosa para ver como ficaram os  "novos" pavilhões. Sabe-se que a estrutra do mercado é formada por beirais abertos, encimados por arcos de ferro, os quais são sustentados por colunas, também em ferro. Nas duas fachadas principais, fechando os arcos, há gradis de ferro com ornatos decorados, acompanhados por vidros coloridos. O Mercadão vai ficar uma beleza, segundo um amigo de Naná que trabalha na municipalidade. Amigo esse que está providenciando uma colocação para o Zé Mugunzá, atual marido de Naná, que sonha em trabalhar por lá.

Apesar de seus quase quarenta anos, Naná é casada atualmente com o Zè Mugunzá, um cabocão forte e bem apessoado, de vinte anos de idade, que está monopolizando o comércio de mingau no centro da cidade.

Naná, não trabalha, nunca trabalhou e jamais vai trabalhar. É dona de casa. Tem quatro filhos, dois de cada casamento anterior ao atual, com Zé Mugunzá. Além das pensões que recebe dos ex-maridos, é teúda e manteuda pelo Zé Mugunzá, que, como já dito, produz e vende, por conta própria, mingau nas ruas do centro de Manaus.

Vaidosa, Naná alega absoluta falta de tempo para o trabalho. Afinal, tem que cuidar dos filhos, da casa, do marido. E,  claro, das unhas, dos cabelos e da pele. No último domingo foi vista na Praia do Açutuba sendo literalmente pincelada dos pés a cabeça por Zé Mugunzá, com uma substância branca aquosa, vinda de uma tijelinha, com o objetivo de clarear os pelinhos do corpo e suavisar a pele.

Uma amiga, também ex-moradora do Igarapé do 40, pergunta a Naná se ela vai ajudar o marido no comércio de mingau, quando o Mercadão reabrir. Nana foi enfática: Nem pensar! Sou dona de casa. E nem preciso, meu marido é um próspero mingauzeiro.