Amigos do Fingidor

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Só compro no bate palmas



Pedro Lucas Lindoso


O Jurídico de uma grande empresa do PIM (Polo Industrial de Manaus) mudou significativamente sua rotina com a chegada dos novos estagiários.

Um deles, um jovem e garboso aficionado em sites de compra, chamado Dartagnan.

O jovem estagiário, fluente em francês e lutador de artes marciais, fez a cabeça do Seu William, para adquirir produtos chineses via internet.

William é um quarentão carioca, radicado há anos em Manaus. Trabalha como assistente administrativo do Jurídico. È torcedor fanático do boi caprichoso. Casado com amazonense, gosta de tomar tacacá. Come pupunha com café e já se considera um típico manauara.

Ocorre que nosso amigo William jamais havia comprado algo pela internet. Mas foi na onda do Dartagnan. O tal site de que Dartagnan tanto fala, oferece vários produtos: – lingerie, bijus, relógios, camisas, sapatos etc. Tudo devidamente cotado em dólares americanos.

William se encantou com uma estilosa blusa de US$6.00 (seis dólares americanos), frete incluído.  A tal blusa, branca, de mangas compridas e detalhes nos punhos, parecia uma verdadeira pechincha. A foto no site era realmente inspiradora.

No sul do Brasil, blusa é um componente primordialmente do vestuário feminino. No Amazonas blusa e camisa é a mesma coisa. È como farda e uniforme. No sudeste farda é só para militares. Aqui em Manaus as crianças vão para as escolas fardadas.

Mas voltemos à aquisição da blusa chinesa pelo William. Paga através de cartão de crédito internacional, a  encomenda foi ansiosamente rastreada.

Saiu da cidade chinesa de NingBo, passando por CiXi, Hai Yan, até chegar a PingHu. De PingHu foi rastreada até FengXian, passando por NanHui finalmente chegou à grande e famosa cidade de Xangai. De lá, foi despachada para Hong Kong e enviada diretamente para o Rio de Janeiro. Chegou a Manaus após longo 47 dias de ansiosa espera. Mas chegou!

William usa camisa número quatro. Mas o seu assessor para assuntos de compras internacionais chinesas, o nosso já conhecido Dartagnan, recomendou-o a escolher o tamanho extra-large. Ou XL, que no Brasil seria o GG. Ora, William usa quatro, que seria tamanho médio para grande. “Mas chinês é pequenino”, gitinho, como se diz em Manaus.

Com a chegada da blusa, a grande decepção. Apesar da etiqueta XL, a blusa era muito gitinha para o William. O material não era tão bom quanto aparentava na foto do site. E a estampa era o suprassumo do tradicional material “shing ling”. Que mico!

A Dra. Mariana de Lisieux, uma jovem e intrépida advogada, ofereceu a módica quantia de R$10,00 (dez reais) pela tal blusa. Todavia, William recusou a oferta de imediato.

Atenta a toda aquela confusão, dona Lucinda, a contadora, muito sabiamente, comentou:


– É por essas e outras, que eu só compro roupas, seja “shing ling” ou não, na Rua do bate palmas, conhecida como Marechal Deodoro. Eu hein!!