Amigos do Fingidor

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Só vou se for pela VARIG


Pedro Lucas Lindoso

            Na última vez que fui ao Rio de Janeiro, visitei Tia Idalina. Vaidosa ao extremo, pinta os cabelos de preto graúna e as unhas de vermelho paixão, combinando com batom vermelho tango. Fez 85 anos outro dia.  Mas para todos diz que completou 72. Ela mesma se trai. Alguém que diz aos quatro ventos que quando menina vestia-se igual à Shirley Temple. E chama comercial de TV de ”reclame”! Essa pessoa não pode ter menos de 80 anos.de idade.
           Tia Idalina gosta de fazer palavras cruzadas e poemas. Escreve-os à mão. Até hoje não enfrentou o computador. Quando cheguei a sua casa havia terminado um soneto cujo tema era vaidade. Elogiei o texto. Tecnicamente perfeito, mas um pouco sem graça.  Ela então pediu a sua neta Tina:
            – Minha filha, bata este poema. Um original e duas cópias, por favor.
            Traduzindo para linguagem do século XXI, Tina foi solicitada a digitar e imprimir três cópias do poema.
            Tia Idalina mora em Copacabana. Diz ela que há mais amazonenses e seus descendentes em Copacabana do que em Manaus. Um exagero. Mas explica que antigamente todas as pessoas de bem tinham apartamento no Rio de Janeiro. Agora muitos vão para São Paulo e Fortaleza. Compram imóveis por lá. Tia Idalina tem saudades de Manaus, mas diz que não volta mais.
            – Todos morreram e o casarão do centro foi destruído.
            Eu disse a ela que Manaus estava muito bonita, com vários shopping centers. Ela rebateu:
            – Detesto shoppings. Gostava mesmo do Mercado Adolpho Lisboa. Mas dizem que não existe mais.
            Expliquei-lhe que o Mercadão estava fechado para restauro, mas que iria reabrir em breve. Perguntei-lhe se fazia muitos anos que não visitava Manaus. Ela me disse que quando foi por lá não havia festivais de ópera.  Lembrou-se da última vez em que esteve no Teatro Amazonas. Foi assistir a Dercy Gonçalves.
            – Falava tanto palavrão que o lustre do Teatro tremia. Até os fantasmas gargalhavam. Um horror. Que Deus a tenha.
            Então eu lhe disse que ela devia visitar novamente a cidade. O Mercadão vai reabrir. A Praça da Polícia estava uma beleza. O antigo quartel estava transformado em Palacete Provincial. Derrubaram aquele prédio modernoso que ficava em frente ao Rio Negro Clube. A Praça da Saudade estava toda restaurada. Uma maravilha. Então, ela disse:
            – É mesmo? Então, vou voltar! Tina, amanhã vamos a uma loja da VARIG comprar as passagens.
            Expliquei-lhe que não havia mais loja da VARIG. Passagens se compram pela internet. E que a VARIG não voa mais para Manaus. Ela, bastante decepcionada, me disse:
            – Já decidi. Não volto mais, então! Do Rio para Manaus, só vou se for pela VARIG.