Amigos do Fingidor

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Higiene e saúde na Índia antiga



        João Bosco Botelho

As normas de higiene pessoal e coletiva, especialmente entre as camadas mais abastadas e próximas do poder político, desempenhavam papel muito importante na construção das cidades da Índia antiga.
Esses cuidados com a higiene estão descritos nas Leis de Manu, entre os séculos 2 a.C. e o 2 d.C., para ordenar a organização geral, sob a forte motivação religiosa e política. Os especialistas entendem essas leias como oriundas de registros anteriores, isto é, podem ser consideradas como uma espécie de compilação das culturas mais antigas. Igualmente importante é assinalar que as leis de Manu, também conhecidas como Código de Manu, devem ter se mostrado tão eficientes que alcançaram a Assíria, Judeia e Grécia. Os registros também apontam para rígida fiscalização à obediência dessas leis impondo severos castigos aos transgressores. Mesmo com forte inserção religiosa, é justo assegurar que essas leis oferecem robusto amparo laico ditado pela administração. Dessa forma, sem dúvida, como outros, daquela época, contribuíram enormemente para impor a obrigação de seguir os regulamentos da higienização dos corpos e dos espaços urbanos.
Entre as recomendações, destacam-se: higiene das mãos e da boca após cada refeição; banhos completos do corpo após contatos com coisas sujas ou pessoas que apresentassem sinais de doença; excrementos e água servida deveriam ser removidos, imediatamente, para fora de casa; maior higiene das mulheres nos períodos menstruais e pós-parto; lavagem dos olhos com água limpa; dieta mais vegetariana; cremação dos mortos; punição severa do alcoolismo.
Como o Código de Hammurabi, escrito 1500 anos antes, as Leis de Manu também ordenaram os procedimentos médicos, punindo a má prática e obrigando o pagamento dos serviços profissionais.
O processo formador do médico consistia, em grande parte, em memorizar e receitar as recomendações prescritas nos textos védicos. Parece lógico pressupor que somente a parcela mais abastada da população, aquela que poderia aprender a ler, estaria apta a receber esse treinamento teórico. Os exercícios práticos consistiam nas visitas aos enfermos, reconhecimento das plantas medicinais, preparo dos medicamentos e a realização das técnicas cirúrgicas em animais mortos, frutas e bolsas de couro. Quando o mestre considerava que o discípulo estava apto, apresentava-o ao governante, para receber a anuência da administração, como requisito indispensável, sem o qual o aprendiz não poderia ser considerado médico.
O compromisso final do estudante junto à administração assemelhava-se muito ao juramento hipocrático grego: “Dedica-te por inteiro a ajudar ao enfermo, mesmo a custo de tua própria vida. Nunca agraves o enfermo, nem sequer com o pensamento. Esforça-te sempre em aperfeiçoar teus conhecimentos. Não trates as mulheres se não em presença de seus maridos. O médico observará todas as normas do bem trajar e da boa conduta... Fora da casa do paciente, não falará do que tenha ocorrido em seu interior. Não deve mencionar ao paciente sua possível morte, em fazendo isto, vai prejudicá-lo ou a qualquer outra pessoa. É desejo dos deuses isso que tu prometes. Caso sigas estas regras, os deuses poderão te ajudar. Caso não o faças, os deuses se voltarão contra ti.” 
Ainda nos dias atuais, o curador shivanista carregando consigo as milenares plantas medicinais e recitando os hinos em louvor a Shiva, continua sendo o mais importante representante dessa milenar prática medica.