Amigos do Fingidor

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Ácido sulfúrico ou anilina?



Pedro Lucas Lindoso

Fim de ano. Leio nos jornais que neste 2016 que ora termina a famosa tabela periódica de elementos aumentou.  Quatro novos foram batizados como nihônio, moscóvio, tennessino e oganessono.
A notícia fez lembrar-me de um Natal de minha infância, quando o Papai Noel deixou perto de minha cama um presente inesquecível. Tratava-se de uma caixa que continha um microscópio pequeno, tubos de ensaio de verdade, feitos de vidro. Além de tubos de ensaios, a caixa O PEQUENO QUÍMICO vinha com mini béquer e pipeta. E continha também reagentes. Claro que em doses pequenas. Até ácido sulfúrico.
 Fui alertado de que havia substâncias perigosas e que eu deveria brincar somente com a ajuda de meus irmãos mais velhos. Ao brinquedo que vinha sob a aura de algo mágico, era imposto uma tutela desagradabilíssima. A necessária vigilância de irmãos mais velhos foi por demais frustrante. Terminou por confiscarem o meu presente em definitivo. Foi-me permitido, eventualmente, ver as coisas estranhas no microscópio. E só.
Ao protestar e dizer que o presente era meu, levou-se o assunto ao papai Noel. Meu velho pai ficou impressionado com a explicação de meu irmão mais velho sobre os perigos do ácido sulfúrico, que vinha no brinquedo. Foi informado de que o ácido possui alto poder de corrosão e causa grandes problemas ao ser humano, tanto quando ingerido acidentalmente como quando inalado ou derramado sobre a pele.
Ante tal fato, meu pai decidiu que a tutela era definitiva e que eu deveria obedecer aos mais velhos sem reclamar. Era para o meu próprio bem e para minha própria segurança.
Via a alegria de meus irmãos em lidar com ácido sulfúrico e outros reagentes. Apesar de só poder observar.  As experiências evoluíam para outras coisas e logo os verdadeiros donos do brinquedo começaram a experimentar diversos líquidos tais como material de limpeza encontrado na despensa. Soda cáustica, suco de limão e outros produtos serviram de teste. Até que todos os tubos de ensaiam se quebraram, os reagentes acabaram e a brincadeira foi esquecida.
Se fosse nos dias de hoje, provavelmente meu brinquedo não seria confiscado. Vi uma dessas caixas numa loja de brinquedos – O PEQUENO QUÍMICO e achei uma bela porcaria. Os tubos de ensaio foram substituídos por plástico. Os reagentes por anilina. Tudo hoje é perigoso e proibido. Não sei como a minha geração sobreviveu a tantos perigos.
Fico pensando na infância dos químicos que descobriram os novos elementos.  Li no jornal que os novos inquilinos da tabela periódica, produzidos artificialmente, são altamente radioativos.

Será que o estojo do PEQUENO QUÍMICO desses cientistas ainda tinha ácido sulfúrico ou já era anilina?