Pedro Lucas Lindoso
O Rio de Janeiro no verão faz mais calor que em Manaus.
Tia Idalina me liga de Copacabana esbaforida. Foi à farmácia da esquina. O
termômetro da rua indicava 38 graus. Comprou cinco potes de sorvete Häagen-Dazs e voltou para casa.
Mas por que Häagen-Dazs? Sempre consumiu
sorvete da Kibon. Quando menino e íamos à praia, havia os picolés premiados da
Kibon. Era uma alegria quando achávamos um picolé premiado. Dava direito a
outro de graça. Bons tempos. Explicou-se:
– Meu parâmetro agora é Michel e
Marcela. Eles adoram Häagen-Dazs. E eu provei e amei. Tem um toque europeu. Os
ingleses não imitam os gostos da família real britânica? Por que não imitar os
Temer?
Disse a Idalina que informações do
Google dão conta que Häagen-Dazs
é uma marca de sorvete americana
fundada por Reuben e Rose Mattus, no Bronx, em Nova Iorque, em 1961.
Posteriormente, em 1983, foi vendida e tornou-se uma multinacional. Não
tem nada de europeu. E dizem que a licitação foi superfaturada.
Mas Idalina não arrefeceu. Disse-me que era implicância
com Michel e Marcela. Os sorvetes Häagen-Dazs foram licitados para abastecer o avião
presidencial durante um ano. Ademais a licitação incluía comida além de
sorvete. Para não discutir e nem desagradar Idalina concordei que o sorvete de baunilha com macadâmia crocante
deles era delicioso e encerramos o telefonema.
Havia
uma sorveteria aqui em Manaus, a TÔ-KI-TÔ, na Rua Emílio Moreira canto com a
Ramos Ferreira. No início dos anos de 1980 vendia sorvete SANSUÊ. Depois
começou a fabricar seu próprio sorvete. Pertencia a um tio chamado Batuel
Lindoso. O sorvete era tão gostoso quanto o Häagen-Dazs. Mas meu tio não teve a mesma
sorte que Reuben
e Rose Mattus do Bronx. E faliu.
Hoje aqui em Manaus faz sucesso o picolé da massa. Já faz
parte da cultura amazonense. Há vários sabores, predominando os regionais, como
buriti, tucumã e açaí. E o de tapioca.
Muita gente não consome porque tem a história de que o
picolé da massa é um produto que não tem higiene e que é preciso tomar cuidados
redobrados.
Existem os produtores honestos, é verdade. A família
pioneira guarda o segredo da tal massa a sete chaves. Uns dizem ser massa de
macaxeira. Outros, de formulados à base de leite. Há controvérsias.
Há muitas fábricas nos fundos dos quintais. A vigilância
fechou uma arapuca administrada por uma cabocla procurada pela polícia que se
juntou a um imigrante haitiano para produzir e vender sorvete da massa. Um
descalabro em termos de higiene.
Nem Kibon, nem Häagen-Dazs, nem da massa. Sinto saudades do picolé de groselha de minha infância. Era vendido pelo seu
Malaquias, no canto da Henrique Martins com a Rui Barbosa. Aquilo sim era
picolé!