O
lado vermelho do azul
(fragmento)
Arnaldo
Garcez
(Em memória do poeta
Ernesto Penafort)
O lado vermelho do
azul
é encarnado
encardido
assim como o amarelo
e a fome das
crianças
do Solimões
o lado vermelho do
azul
não é verde
tal os limões azedos
na ponta dos dedos
da memória do povo
(ovo em banho-maria)
o lado vermelho do
azul
busca a dignidade
sem contemplar o
tempo
essência de ócio e
do cio
na fome da miséria
de alguns homens
podres
o lado vermelho do
azul
não admite o fruto
falso
que traduz o vento
da lepra, que
insiste
no encalço dos
nossos
passos
entre a Getúlio
Vargas
e a Dez de Julho
(ditadura e
liberdade)
o lado vermelho do
azul
rejeita o lilás
aliás é contrário
a qualquer forma de
governo
que não busque
a essência da luz
que traduza o
alimento
a razão e o
equilíbrio
o lado vermelho do
azul
é mais forte
do que qualquer
forma
de governo
permanece no ventre
do vento num tempo
que não necessita de
governo
o lado vermelho do
azul
também é contrário
ao rio que escorre
como álibi, no
córrego da
vida
faminta de uma
sociedade
quase extinta
o lado vermelho do
azul
não é frágil como os
olhos
da manhã
que se ilude com o
sol
os limões e a lepra
amarelada sob as
armas
e armaduras de
grupos
indecentes
o lado vermelho do
azul
procura o verde, não
esse
verde
da bandeira,
nem o verde da
esperança,
mas sim, o ver do
verde,
futuro decente
de um povo (o ovo em
banho-maria)
verdes o vermelho
é o outro lado do
azul