Pedro Lucas Lindoso
Quando Deus criou o mundo, o fez em sete dias. No primeiro
dia criou a luz. No segundo criou o céu. No terceiro dia criou a terra. No
quarto criou os corpos celestes. No quinto criou os animais e as aves do céu.
No sexto dia os animais da terra, inclusive os humanos.
No sétimo dia, Deus descansou. Ele estava satisfeito. Deus
abençoou o sétimo dia e o santificou, porque era o dia de descanso.
O velho Chaguinhas, pai do meu amigo, era um cristão
fervoroso. Católico praticante. Não fazia, não assinava, não decidia nada
importante nos dias de domingo.
Após acordar, ia à missa. Em jejum. Até a fisiologia precisa
de uma pausa, dizia ele. Ademais, a Santa Madre Igreja nos ensina que devemos
comungar em jejum.
O domingo era para ficar com a família, fazer as coisas
devagar e respeitar o descanso. Afinal, domingo era um dia santificado. Quando
as padarias e outros pequenos comércios começaram a abrir as portas aos
domingos, o velho Chaguinhas achou um absurdo.
Eventualmente fumava um cachimbo. Isso podia. Domingo pede
cachimbo. E proibia qualquer membro da família de fazer algum trabalho
importante. Até mesmo os estudos podiam ser interrompidos.
Certo domingo, recebeu a visita de um amigo que desejava
alugar uma casa de Chaguinhas. O velho foi enfático:
– Não faço negócios aos domingos. Volte amanhã.
Quando supermercados e shopping centers começaram a abrir aos
domingos, ele profetizou:
– Os homens andam muito gananciosos. Isso desagrada ao
Criador.
Tudo e todos precisam de um descanso. Uma pausa. Até na
música há pausas. As pausas musicais são intervalos de tempo em que deve haver
silêncio, ou seja, nenhuma nota deve ser tocada nesse instante. E continuou:
– Haverá um dia em que esses homens que não param de
trabalhar, que não respeitam o domingo santificado pelo Senhor, serão obrigados
e fazer uma pausa. Nem que seja compulsoriamente.
Nesses dias de quarentena, lembrei-me do velho Chaguinhas.
Ele sempre dizia que devemos repousar. Repousemos.