Pedro Lucas Lindoso
Durante esse confinamento que parece não ter fim, converso
com meu amigo Chaguinhas, via WhatsApp, sobre vários assuntos, inclusive a
pandemia.
Chaguinhas se diz abismado com algumas atitudes deploráveis
perpetradas por algumas pessoas durante a pandemia. E reafirma que está, a cada
dia que passa, mais desiludido com o ser humano. Considera que a humanidade não
tem jeito. Nem uma pandemia dessas conserta as pessoas. Ao contrário, a
pandemia expõe a todos nós a sordidez dos homens. A incúria total das pessoas.
A total imprevidência, negligência, ausência de inciativa plausível de governos
e autoridades.
Uma médica de São Paulo foi interditada pelo Conselho de
Medicina devido a divulgação de um soro anticoronavírus vendido em seu
consultório. Outra médica, famosa dermatologista, repita-se dermatologista,
houve por bem receitar hidrocloroquina como profilaxia para toda a equipe de
sua clínica. Diz ela que é uma forma de prevenção ao COVID-19.
Viralizou um depoimento de uma senhora aloprada que confundia
COVID-19, a doença, com o coronavírus, o vírus que causa a COVID-19. Uma aula
de insanidade e desconhecimento. Uma loucura!
Em meio a tanta insanidade foram convocados epidemiologistas,
médicos, sociólogos, filósofos, intelectuais e cientistas em geral, para se
pronunciarem sobre a epidemia. E pronunciamento é o que não falta nas redes
sociais.
Chaguinhas diz que, como bom amazônida, tem respeito pelos
conhecimentos tradicionais dos povos da floresta. Foi aconselhado a tomar mastruz para os pulmões.
Chá de gengibre ou mangarataia, casca de panacanaúba, além de casca de quina.
Tudo como profilaxia para o terrível vírus.
Por que não damos créditos naquilo que nós ouvimos dos povos
tradicionais? Há uma memória biocultural
importante que deve ser respeitada. Um conjunto de saberes, de práticas, que
eventualmente adquirem significados aos mesmos cientistas, médicos e
pesquisadores de prestígio. Mesmo porque a memória biocultural é fonte de
pesquisa aos cientistas do mundo inteiro.
O que é lamentável é o desconhecimento formal e escolar do
caboclo leso. Ao receber o resultado do teste para coronavírus como positivo, achou
que estava tudo bem. Tudo ok. Tudo positivo. E feliz da vida descuidou de
qualquer tratamento.
Ignorância mata, concluiu Chaguinhas.