O
jardim da minha mãe
Almir
Diniz (1929-2021)
Hoje,
voltei ao jardim,
ao
que restou do jardim
que
fora teu santuário.
Olha:
foram dolorosas
as
recordações das rosas,
que
as tinhas sempre formosas
em
tão belo relicário.
Mãe:
senti no coração
tanta
dor, tal comoção
e
tão imenso desgosto
que,
cheio de pasmo e espanto,
refugiei-me
num canto
pensando
esconder o pranto
que
escorria do meu rosto.
Nem
um só cravo ou begônia,
um
simples cróton – vergonha! –,
angélica,
ou bem-me-quer,
nem
uma simples verbena,
mesmo
uma rosa pequena,
um
lírio ou uma açucena,
nem
uma dália sequer.
E
os crisântemos doirados,
os
bogaris perfumados,
girassol
e margarida,
as
papoilas, laranjinha,
os
jasmins que tantos tinha,
nove-horas,
a flor rainha...
morreram,
por ti, querida.
A
bela-da-noite, a zina,
cana-da-índia,
a cravina,
igualmente
– que maldade! –
Sabe,
Lídia, eu tenho medo,
vou
revelar-te um segredo:
cuidar
dele? – sou um aedo,
só
sei cuidar de saudade...
Refazer
o teu jardim?
Não
posso, Mãe, – ai de mim! –
Como
iria, enfim, fazê-lo?
Sem
teu olhar maternal
sem
tuas mãos sem igual,
como
fazer, afinal?
Não
posso – falta o teu zelo.
Mas,
sabe o que vou fazer?
Já
que não posso esquecer
teu
sonho que vive em mim?
Em
volta do teu solar
vou
refazer o pomar,
onde
sempre ias orar
após
saudar tem jardim.
E
quando o tempo chegar
do
cacau, caju, da ingá,
da
graviola e mamão...
em
vez de rosas, querida,
terás
a mesa sortida
de
tantas frutas, de vida:
ao
centro teu coração!
Cambixe,
AM, 11/6/2004.