Pedro Lucas Lindoso
A primeira vez que visitei as Anavilhanas foi em viagem de
estudo. Cursava pós-graduação em Direito Ambiental, promovido por convênio
entre a Universidade Petrobras e a UEA – Universidade do Estado do Amazonas.
Era época da vazante. Havia praias. Os pássaros e outros
animais endêmicos faziam festa nas diversas ilhas e ilhotas das Anavilhanas.
Arquipélago fluvial dado de presente por Deus e pela mãe natureza aos
amazonenses e ao planeta.
Visitei recentemente Novo Airão. O rio ainda está cheio e sem
praias. Ir até o arquipélago é sempre um privilégio. Contratamos uma rabeta.
Nosso piloteiro chama-se Dijalma. Cruzamos o rio e avistamos a primeira grande
ilha. Nos aproximamos de um minúsculo paraná. Havia uma garrafa pet branca como
indicativo de sinalização. Dijalma me disse que os técnicos do ICMBio as
colocam estrategicamente para não se perderem. Incrível. Mas ainda há
contrabando de madeiras nas barbas dos fiscais.
Na calada da noite.
Dijalma prescinde daquelas pequenas sinalizações. Conhece o
arquipélago como ninguém. Desde muito jovem navega por lá. Para quem não
conhece as Anavilhanas um descuido pode ser fatal. É um verdadeiro labirinto de
ilhas. Mais de 400. E, claro, em muitos lugares não pega sinal de celular.
Eu tinha certeza de que estávamos em boas mãos e em
segurança. Entramos no pequeno igapó. Na época da vazante só se entra por aqui
a pé. É uma trilha. Na cheia fica esse lindo igapó.
Lindo é pouco. Conhecia outros igapós. Bem mais largos. Mas
aquele que Dijalma nos apresentava era especial. O reflexo da natureza nas
águas era um show à parte. Confundiam-se as imagens. O reflexo era tão perfeito
que se misturava com o real. Igapó é um
termo oriundo do tupi e significa “raízes d'água”. Rios como o Negro, que hospeda as Anavilhanas,
tem águas escuras. Explicam os cientistas que é devido à presença de compostos
orgânicos que se formam no interior dos igapós. Esse material se decompõe lenta
e constantemente.
Nos igapós a vegetação, geralmente, é baixa. Há arbustos,
cipós e musgos. Mas esse igapó que visitávamos, como disse, só existe na cheia.
E tem muitas árvores. Tauaris e bacabas. Buritis e angicos. Arbustos, como
bromélias e begônias.
Nosso guia desligou a rabeta. E foi aí que pudemos ouvir o
silêncio daquele igapó. Silêncio tão conhecido do poeta Thiago de Mello, que
nos convida sempre: “vem escutar os cânticos noturnos / no mágico silêncio do
igapó / coberto por estrelas de esmeralda”.
Não era noite. O sol refletia a natureza. Mas, sim, aquele
silêncio que escutávamos era tão mágico quanto o descrito pelo poeta. Quem ouve
o silêncio de um igapó não precisa ouvir estrelas.