Cuia
Simão
Pessoa
(poema feito a partir de um quadro
do artista plástico Turenko Beça)
De
longe como Matisse
Que
a desnudando vestisse
Ela
revela a natureza
Que
a esconde por inteiro
E
a esconde por inteiro
Do
olho que a devassa:
O
vão desdobrado em quilha
Recoberto
por limalha
De
luz é sua textura
Que
ao toque se adivinha
Como
as bordas da pupila
Refletindo
água-marinha.
Tem
a aparência furtiva
De
uma fruta adocicada
Daquela
que nos convida
Na
a comer – a olhá-la.
De
luminosos cristais
Sua
curvatura se veste:
O
gosto de qualquer fruta
Nela
é as dobras da pele.
É
fruta de carne e osso
Silêncio
sonho e medula.
É
fruta de mil desejos
Na
língua mais que na gula.
É
uma paisagem de dunas
Com
casulos emborcados.
É
uma ópera intestina
De
conchas no alagado.
É
uma onda sem mistério
Tirando
arestas da areia.
É
uma maçã que mordida
O
baixo ventre incendeia.
É
o ovo da serpente
Como
que moldado em pedra.
É
a cúpula do teatro
Na
sua forma geodésica.
No
mais não é uma cuia
Arquitetada
por Gaudí.
É
uma cuia, mas nativa
De
tacacá e açaí.
Que
uma bunda não é nunca
O
silêncio de uma tela:
É
uma vontade profunda
De
se perder dentro dela.