Pedro Lucas Lindoso
O
grande filósofo italiano Norberto Bobbio trouxe para a filosofia contemporânea
o conceito de “mitezza”. O vocábulo italiano é traduzido como serenidade,
moderação, mansidão.
Por seu
turno o francês Sartre, pai do Existencialismo, nos ensina que somos livres,
condenados a ser livres. E temos que fazer escolhas. Isso às vezes é
angustiante. O Brasil vive um momento de extremismos. A Nação está polarizada.
Escolher é parte da nossa existência. Não temos opção de não escolher. Não
fazer nada. Não escolher é uma escolha.
Minha
escolha pessoal é pela “mitezza” de Bobbio.
Verifico que a sociedade se tornou violenta. A polarização política
retroalimenta essa violência, criando inimizades, opressão, medo, desconfiança.
O que nos resta a não ser a esperança? Esperança de que o bem vai vencer.
E
repito, me agarro no conceito de “mitezza”, compreendido como mansidão:
“Bem-aventurados os mansos porque eles possuirão a terra”.
Essa
proposta de “mitezza”, de mansidão, não deve e não pode ser confundida com
submissão nem tampouco com humildade. Nós, cidadãos brasileiros, devemos deixar
a força, o confronto, os acordos para a seara da política e seus agentes. Nós,
enquanto povo, enquanto sociedade em comunidade, devemos exercer a “mitezza”,
reconhecendo no outro a beleza e a necessidade de bem se relacionar.
No
“Louvor à Mitezza”, Norberto Bobbio ensina que, para responder à violência, nós
traímos a “mitezza”, desconsideramos a nossa própria mansidão. São as escolhas
angustiantes que temos que fazer, como nos lembra Sartre.
Bobbio
explica que a “Mitezza”, ou seja, a mansidão, na verdade, não é uma virtude
recíproca: “O manso não pede, não exige qualquer reciprocidade: a mansidão é
uma disposição para com outros que não precisam ser pagos para se revelar em todo
o seu escopo.”
O
Brasil parece estar numa encruzilhada. As cartas estão dadas. Devemos ter
responsabilidade para deixar e oferecer às novas gerações um país melhor, mais
desenvolvido, mais igual e próspero. E penso que para isso é necessária a
“mitezza”, a mansidão. Abominando a agressão. Temos que construir uma sociedade
onde ninguém seja covarde. Que possamos ouvir a voz dos que não têm voz.
Precisamos fazer renascer a justiça e a verdade. Mas com “mitezza”, sem pisar
ou vilipendiar ninguém.