Amigos do Fingidor

terça-feira, 21 de setembro de 2021

“Mitezza”: serenidade, moderação, mansidão

Pedro Lucas Lindoso

 

O grande filósofo italiano Norberto Bobbio trouxe para a filosofia contemporânea o conceito de “mitezza”. O vocábulo italiano é traduzido como serenidade, moderação, mansidão.

Por seu turno o francês Sartre, pai do Existencialismo, nos ensina que somos livres, condenados a ser livres. E temos que fazer escolhas. Isso às vezes é angustiante. O Brasil vive um momento de extremismos. A Nação está polarizada. Escolher é parte da nossa existência. Não temos opção de não escolher. Não fazer nada. Não escolher é uma escolha.

Minha escolha pessoal é pela “mitezza” de Bobbio.  Verifico que a sociedade se tornou violenta. A polarização política retroalimenta essa violência, criando inimizades, opressão, medo, desconfiança. O que nos resta a não ser a esperança? Esperança de que o bem vai vencer.

E repito, me agarro no conceito de “mitezza”, compreendido como mansidão: “Bem-aventurados os mansos porque eles possuirão a terra”.

Essa proposta de “mitezza”, de mansidão, não deve e não pode ser confundida com submissão nem tampouco com humildade. Nós, cidadãos brasileiros, devemos deixar a força, o confronto, os acordos para a seara da política e seus agentes. Nós, enquanto povo, enquanto sociedade em comunidade, devemos exercer a “mitezza”, reconhecendo no outro a beleza e a necessidade de bem se relacionar.

No “Louvor à Mitezza”, Norberto Bobbio ensina que, para responder à violência, nós traímos a “mitezza”, desconsideramos a nossa própria mansidão. São as escolhas angustiantes que temos que fazer, como nos lembra Sartre.

Bobbio explica que a “Mitezza”, ou seja, a mansidão, na verdade, não é uma virtude recíproca: “O manso não pede, não exige qualquer reciprocidade: a mansidão é uma disposição para com outros que não precisam ser pagos para se revelar em todo o seu escopo.”

O Brasil parece estar numa encruzilhada. As cartas estão dadas. Devemos ter responsabilidade para deixar e oferecer às novas gerações um país melhor, mais desenvolvido, mais igual e próspero. E penso que para isso é necessária a “mitezza”, a mansidão. Abominando a agressão. Temos que construir uma sociedade onde ninguém seja covarde. Que possamos ouvir a voz dos que não têm voz. Precisamos fazer renascer a justiça e a verdade. Mas com “mitezza”, sem pisar ou vilipendiar ninguém.