I
Antísthenes Pinto (1929-2000)
Antecipo minhas rugas no espelho.
A sombra hirta que foi vejo curvada.
Piso fundo no chão que silencia
E vou contar estrelas na vidraça.
A ave do desejo pousa em livro.
(Não há no vácuo acústica às palavras)
Liberto já do sonho que não tive
Fujo de mim e só de mim fugindo
Sem dar um passo além do que pensara
Quando fui velho sem chegar a ser.
O meu patético olhar engole o longe:
– Escuro limitando com escuro
E quanto ao perto: cinza no cinzeiro
E o negro cão do tempo me mordendo.