Amigos do Fingidor

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

A poesia é necessária?

                                                        I

                      Antísthenes Pinto (1929-2000)

 

Antecipo minhas rugas no espelho.

A sombra hirta que foi vejo curvada.

Piso fundo no chão que silencia

E vou contar estrelas na vidraça.

 

A ave do desejo pousa em livro.

(Não há no vácuo acústica às palavras)

Liberto já do sonho que não tive

Fujo de mim e só de mim fugindo

 

Sem dar um passo além do que pensara

Quando fui velho sem chegar a ser.

O meu patético olhar engole o longe:

 

– Escuro limitando com escuro

E quanto ao perto: cinza no cinzeiro

E o negro cão do tempo me mordendo.