Pedro Lucas Lindoso
É fato que a mentira tem perna curta, mas o boato corre. E como corre. Hoje o boato se chama “fake news”, e sua velocidade, em especial pela internet e mídias eletrônicas, alcança exponenciais estratosféricos.
Os
boatos “fake news” voam destruindo reputações, espalhando ódios, destruindo
famílias, abalando a bolsa de valores e a cotação do dólar. Podem ainda causar
malefícios à saúde das pessoas, graves constrangimentos e muitas outras
consequências trágicas. Ou simplesmente fazer rir alguns e causar choro em
outros.
Os
boatos e as “fake news” não são novidades. Antes do advento da internet e das
mídias sociais havia as malsinadas cartas anônimas. Eram usadas para manchar a
reputação, principalmente de políticos em épocas de eleição. Cartas dirigidas
também às casas das vítimas. Eivadas de calúnias, difamação e inverdades, as
cartas anônimas circulavam pelas cidades impunemente. Como circulam as
postagens atuais. Algumas eram reproduzidas em mimeógrafos. Aparelhos
anteriores às máquinas xerox, usados para reprodução de textos, provas e
trabalhos escolares.
Como
filho de político, minha família foi vítima de cartas anônimas. Elas atingiam
não só o político, mas sua família, seus negócios, sua imagem e toda uma
reputação.
Quando
há interesse político, econômico, social ou financeiro esse expediente sórdido
pode ser explicado pela ganância, cobiça ou desejo intenso de poder e fama.
Além de ódio e vingança. E quando não há isso? Como explicar a fabricação de
boatos e “fake news”?
Colega
de Ginásio, ao qual chamarei pelo codinome de Jetatura, era contumaz espalhador de boatos. Na entrada
de nosso colégio, se formava uma fila para entrega das carteiras de controle de
assiduidade dos alunos. Sem o carimbo de presença, significava que havíamos
“matado” aula. Servia para controle da direção e dos pais. Pois bem, Jetatura
aproveitava esse momento de aglomeração para espalhar boatos.
Uma vez,
inventou que um famosíssimo cantor romântico brasileiro havia falecido em
desastre de carro. A celebridade, já idoso, é vivo até hoje, graças a Deus. Mas
Jetatura se comprazia quando, na hora do recreio, o boato retornava a ele. Dava
uma grande gargalhada de mórbido prazer.
Jetatura
se superou ao espalhar que uma temida professora de Matemática havia contraído
câncer e não retornaria para a escola. A licença médica da professora, de três
dias, era para curar uma simples faringite.
Não fui
e nem quis ser amigo de Jetatura. Machado de Assis disse que “o menino é o pai
do homem”. Dizem que ele persiste nos dias de hoje, criando e espalhando “fake news”
pela internet.