Amigos do Fingidor

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Não deixe a lua dormir

 Pedro Lucas Lindoso 


As luzes da cidade desvirtuam a luz da Lua e a claridade romântica do luar. Já no interior é diferente. A lua é importante porque ela pode ajudar na previsão do tempo. Quando a Lua surge amarela e traz um círculo roxo, haverá tempestade, chuva grossa e raios.

A lida dos seringueiros começa às onze horas da noite, quando ele sai para cortar as seringueiras e colocar para coar o leite que produzirá a borracha. Com chuva e tempestade, o trabalho fica ainda mais penoso.

Mas o que mais atordoa o seringueiro é quando há eclipse total da Lua, o que é muito raro. O cientista Fred Espenak, do GSFC – Centro Espacial Goddard da NASA – Goddard Space Flight Center, é um dos responsáveis pela previsão de eclipses.

Na alvorada da sexta-feira, dia 19, véspera do feriado da Consciência Negra, houve um Eclipse Lunar Parcial. Nas cidades ninguém se importa com isso. Mesmo porque é importante notar que, para ver bem os eclipses, é preciso ter um céu sem nuvens e com pouca nebulosidade. E o mais importante é que o horizonte deve estar livre da interferência de prédios ou qualquer coisa que impeça a visualização. Sempre é mais fácil vê-los no interior e nos beiradões dos caudalosos rios amazônicos.

Nesse último eclipse de 19 de novembro, a Lua ficou quase cem por cento de sua superfície coberta pela sombra da Terra. E ainda ganhou uma aparência avermelhada. O fenômeno começou por volta das 3h20, horário de Manaus. Durou muito tempo. Mais de 3 horas. Chaguinhas, dono de um seringal no rio Madeira, me disse que foi o evento lunar mais duradouro dos últimos 500 anos.

Foi o bastante para assustar os seringueiros que a essa hora colhiam leite das seringueiras. Felizmente o apogeu do eclipse se deu por volta das cinco horas, mas não foi possível ver porque a Lua já estava abaixo do horizonte.

Segundo Manoel Silvino que já passou por outros eclipses, o pessoal que estava na mata se assustou. Como era de madrugada, as crianças e as mulheres não viram. Senão haveria gritaria e bater de panelas. Num eclipse total, havido há muitos anos, as mulheres gritavam “acorda, Lua”, enquanto batiam panelas e acalmavam a criançada aos berros.

Chaguinhas se comprometeu a verificar anualmente as previsões de Fred Espenak do GSFC – Centro Espacial Goddard da NASA. Assim, poderá informar seu pessoal da calha do Madeira, com antecedência.

Eles precisam saber quando a Lua vai deixar de aparecer e tirar um cochilo. A Lua não pode dormir assim. Silvino pediu a Chaguinhas para não deixar a Lua dormir tanto tempo assim, como ocorreu neste novembro ainda pandêmico.