Pedro Lucas Lindoso
As luzes da cidade desvirtuam a luz da Lua e a claridade romântica do luar. Já no interior é diferente. A lua é importante porque ela pode ajudar na previsão do tempo. Quando a Lua surge amarela e traz um círculo roxo, haverá tempestade, chuva grossa e raios.
A lida
dos seringueiros começa às onze horas da noite, quando ele sai para cortar as
seringueiras e colocar para coar o leite que produzirá a borracha. Com chuva e
tempestade, o trabalho fica ainda mais penoso.
Mas o
que mais atordoa o seringueiro é quando há eclipse total da Lua, o que é muito
raro. O cientista Fred Espenak, do GSFC – Centro Espacial Goddard da NASA – Goddard
Space Flight Center, é um dos responsáveis pela previsão de eclipses.
Na
alvorada da sexta-feira, dia 19, véspera do feriado da Consciência Negra, houve
um Eclipse Lunar Parcial. Nas cidades ninguém se importa com isso. Mesmo porque
é importante notar que, para ver bem os eclipses, é preciso ter um céu sem
nuvens e com pouca nebulosidade. E o mais importante é que o horizonte deve
estar livre da interferência de prédios ou qualquer coisa que impeça a
visualização. Sempre é mais fácil vê-los no interior e nos beiradões dos
caudalosos rios amazônicos.
Nesse
último eclipse de 19 de novembro, a Lua ficou quase cem por cento de sua
superfície coberta pela sombra da Terra. E ainda ganhou uma aparência
avermelhada. O fenômeno começou por volta das 3h20, horário de Manaus. Durou
muito tempo. Mais de 3 horas. Chaguinhas, dono de um seringal no rio Madeira,
me disse que foi o evento lunar mais duradouro dos últimos 500 anos.
Foi o
bastante para assustar os seringueiros que a essa hora colhiam leite das
seringueiras. Felizmente o apogeu do eclipse se deu por volta das cinco horas,
mas não foi possível ver porque a Lua já estava abaixo do horizonte.
Segundo
Manoel Silvino que já passou por outros eclipses, o pessoal que estava na mata
se assustou. Como era de madrugada, as crianças e as mulheres não viram. Senão
haveria gritaria e bater de panelas. Num eclipse total, havido há muitos anos,
as mulheres gritavam “acorda, Lua”, enquanto batiam panelas e acalmavam a
criançada aos berros.
Chaguinhas
se comprometeu a verificar anualmente as previsões de Fred Espenak do GSFC –
Centro Espacial Goddard da NASA. Assim, poderá informar seu pessoal da calha do
Madeira, com antecedência.
Eles
precisam saber quando a Lua vai deixar de aparecer e tirar um cochilo. A Lua
não pode dormir assim. Silvino pediu a Chaguinhas para não deixar a Lua dormir
tanto tempo assim, como ocorreu neste novembro ainda pandêmico.