O primeiro degrau
Konstantinos
Kaváfis
(1863-1933)
Foi a Teócrito queixar-se
um dia
Eumene, poeta ainda
jovem:
“Faz dois anos que
escrevo e até agora
compus apenas um idílio.
Esse, o meu único
trabalho pronto.
Pobre de mim! Pelo que
vejo, é alta,
deveras alta, a escada da
Poesia.
Estou no primeiro degrau:
jamais,
infeliz que sou, chegarei
ao topo.”
“Essas palavras”,
respondeu Teócrito,
“são um despropósito,
blasfêmias.
Se estás no primeiro
degrau, cumpria
te sentires feliz e
envaidecido.
Chegar onde chegaste não
é pouco,
nem é pequena glória o
que fizeste.
Do primeiro degrau da
mesma escada
está bem distante o comum
das pessoas.
Para pisar esse degrau de
ingresso,
necessário é que sejas,
por direito,
cidadão da cidade das
ideias –
um título difícil:
raramente
fazem-se ali
naturalizações.
De quantos na sua ágora
legislam,
aventureiro algum pode
zombar.
Chegar onde chegaste não
é pouco,
nem é pequena glória o
que fizeste.”
(Trad. José Paulo Paes)