Amigos do Fingidor

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Que Deus me defenda

Pedro Lucas Lindoso

 

Tia Idalina me telefona, via WhatsApp evidentemente, apavorada:   

– Estou sendo espionada. Logo eu que não pertenço a nenhum partido político. Nem mesmo sou obrigada a votar! Fiz setenta anos recentemente!

Não é verdade que titia tenha só setenta anos. Ela ouviu pela BBC de Londres a coroação da Rainha Elizabeth II. Não pode ter menos de oitenta. Mas isso não vem ao caso. Idalina me informa que estava triste e melancólica. Procurou no Youtube uma música para relaxar. De repente uma voz saiu de seu tablet:

– Você está triste?

Sempre despertou as sete da manhã. Quando tem compromisso importante coloca o despertador do tablet para não perder a hora. Pois bem, agora essa voz a desperta diariamente!

– São sete horas!

Depois me disse que seu remédio de diabetes estava em falta em Manaus. Entrou num site de farmácia para comprar pela internet. Agora não para de receber anúncios no Facebook de remédios, “chás” e curas milagrosas para diabetes.

Expliquei para titia que seu tablet estava acoplado a um sistema de inteligência artificial por voz. Pode ser a Siri, da Apple, ou a Bixby, do Androide. Ou então algum “sobrinhe” (titia deu para usar a tal linguagem neutra) pode ter acoplado a Alexa, da Amazon, ao tablet.

Disse a ela que a tal Alexa, que pode ficar avulsa no ambiente, estaria sempre pronta para ajudar a tocar músicas, responder perguntas, ler as notícias, checar a previsão do tempo, criar alarmes, controlar dispositivos de casa inteligente compatíveis e muito mais. Tudo, com sua voz.

Mas que eu pessoalmente acho muito temerária a sua utilização. Um amigo de Brasília que trabalha com inteligência me disse que não devemos ter. Nem em casa muito menos no local de trabalho. Disse a titia que ela foi usada por Big Data. Trata-se de ferramenta estratégica utilizada para a coleta e análise de dados. Essa informação é extremamente útil pois gera insights valiosos para as empresas. Idalina está apavorada com o tal dispositivo e não sabe como isso foi parar acoplado em seu tablet. Não quero conviver com essa Alexa, de maneira nenhuma, me disse perplexa.

Perguntou-me quem havia batizado essa coisa de Alexa. Aliás nome comum em países de língua inglesa e na Alemanha.  Ora, titia, Alexa vem do grego “alexo”, que significa “ajudar” ou “defender”.

– Não quero ajuda dessa coisa! Que Deus me defenda!