Pedro Lucas Lindoso
Tia
Idalina me telefona, via WhatsApp evidentemente, apavorada:
– Estou
sendo espionada. Logo eu que não pertenço a nenhum partido político. Nem mesmo
sou obrigada a votar! Fiz setenta anos recentemente!
Não é
verdade que titia tenha só setenta anos. Ela ouviu pela BBC de Londres a
coroação da Rainha Elizabeth II. Não pode ter menos de oitenta. Mas isso não
vem ao caso. Idalina me informa que estava triste e melancólica. Procurou no
Youtube uma música para relaxar. De repente uma voz saiu de seu tablet:
– Você
está triste?
Sempre
despertou as sete da manhã. Quando tem compromisso importante coloca o
despertador do tablet para não perder a hora. Pois bem, agora essa voz a
desperta diariamente!
– São
sete horas!
Depois
me disse que seu remédio de diabetes estava em falta em Manaus. Entrou num site
de farmácia para comprar pela internet. Agora não para de receber anúncios no
Facebook de remédios, “chás” e curas milagrosas para diabetes.
Expliquei
para titia que seu tablet estava acoplado a um sistema de inteligência
artificial por voz. Pode ser a Siri, da Apple, ou a Bixby, do Androide. Ou
então algum “sobrinhe” (titia deu para usar a tal linguagem neutra) pode ter
acoplado a Alexa, da Amazon, ao tablet.
Disse a
ela que a tal Alexa, que pode ficar avulsa no ambiente, estaria sempre pronta
para ajudar a tocar músicas, responder perguntas, ler as notícias, checar a
previsão do tempo, criar alarmes, controlar dispositivos de casa inteligente
compatíveis e muito mais. Tudo, com sua voz.
Mas que
eu pessoalmente acho muito temerária a sua utilização. Um amigo de Brasília que
trabalha com inteligência me disse que não devemos ter. Nem em casa muito menos
no local de trabalho. Disse a titia que ela foi usada por Big Data. Trata-se de
ferramenta estratégica utilizada para a coleta e análise de dados. Essa
informação é extremamente útil pois gera insights valiosos para as
empresas. Idalina está apavorada com o tal dispositivo e não sabe como isso foi
parar acoplado em seu tablet. Não quero conviver com essa Alexa, de maneira
nenhuma, me disse perplexa.
Perguntou-me
quem havia batizado essa coisa de Alexa. Aliás nome comum em países de língua
inglesa e na Alemanha. Ora, titia, Alexa
vem do grego “alexo”, que significa “ajudar” ou “defender”.
– Não
quero ajuda dessa coisa! Que Deus me defenda!