Amigos do Fingidor

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Turismo de ilusão

Pedro Lucas Lindoso

 

Os homens tem uma capacidade extraordinária de inventar, criar e mentir. O nome do município de Presidente Figueiredo foi uma homenagem ao último presidente do Regime Militar. Entretanto, com o advento da Nova República, espalhou-se a versão de que Figueiredo seria Tenreiro Aranha, o homem que primeiro governou a Província do Amazonas. Ele se chamava João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. Os milhares de turistas que visitam o local ainda recebem essa versão inverídica e, para muitos, mais palatável.

O calçamento do Largo São Sebastião é o mesmo do Rossio, em Lisboa. Que também foi feito na famosa calçada de Copacabana. Alguém quis enganar turistas com a versão de que seria uma alusão ao encontro das águas do Rio Negro como o Solimões. Parece que a ideia não vingou. Provavelmente, porque não explicaria o similar feito na calçada de Copacabana. Posterior ao nosso, por sinal.

Provavelmente, não existe nada mais fake do que a casa de Julieta, em Verona, na Itália. Assim como Shakespeare imaginou a tragédia de Hamlet na Dinamarca, resolveu imaginar e escrever o drama de Romeu e Julieta em Verona, na Itália.

O prédio escolhido para ser a casa de Julieta seria de fato, renascentista. Mas o famoso balcão foi colocado lá nos anos trinta do século passado. Na verdade, foi uma adaptação para uma das primeiras filmagens da famosa peça de Shakespeare. E atualmente, o icônico balcão atrai turistas do mundo inteiro, mesmo sendo um turismo fake.

Em Verona ainda se visita a tumba de Julieta, dentre outros locais alusivos a tão conhecida e festejada estória. Há uma estátua de Julieta, cujo seio é tocado por amantes e namorados para dar sorte. Shakespeare nunca esteve em Verona. Mas vale a pena ir lá. As pessoas precisam se iludir, imaginar e louvar o amor.

Viajando por aí, já escutei muitas estórias inverídicas ou fantasiosas contadas por guias de turismo ou entusiasmados habitantes do local. A vida é assim. Há fatos com milhares de versões. A imaginação dos homens é ilimitada.

O nosso principal atrativo turístico, o Teatro Amazonas, teria seus calçamentos encobertos por uma camada de borracha. Isso somente no final do século 19. Os trotes dos cavalos em carruagens não deveriam perturbar os espetáculos. Dizem que Caruso cantou por aqui. Outra lenda. Mas os turistas adoram ouvir isso. Quem viaja parece estar à procura de ilusões perdidas. E acaba encontrando outras. E divertindo-se. Aliás, muitas localidades turísticas são ilusões. Então estamos combinados. Viva o turismo de ilusão.