Pedro Lucas Lindoso
Os homens tem uma capacidade extraordinária de inventar,
criar e mentir. O nome do município de Presidente Figueiredo foi uma homenagem
ao último presidente do Regime Militar. Entretanto, com o advento da Nova
República, espalhou-se a versão de que Figueiredo seria Tenreiro Aranha, o
homem que primeiro governou a Província do Amazonas. Ele se chamava João
Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. Os milhares de turistas que visitam o
local ainda recebem essa versão inverídica e, para muitos, mais palatável.
O calçamento do Largo São Sebastião é o mesmo do Rossio, em
Lisboa. Que também foi feito na famosa calçada de Copacabana. Alguém quis
enganar turistas com a versão de que seria uma alusão ao encontro das águas do
Rio Negro como o Solimões. Parece que a ideia não vingou. Provavelmente, porque
não explicaria o similar feito na calçada de Copacabana. Posterior ao nosso,
por sinal.
Provavelmente, não existe nada mais fake do que a casa de Julieta, em Verona, na Itália. Assim como
Shakespeare imaginou a tragédia de Hamlet na Dinamarca, resolveu imaginar e
escrever o drama de Romeu e Julieta em Verona, na Itália.
O prédio escolhido para ser a casa de Julieta seria de fato,
renascentista. Mas o famoso balcão foi colocado lá nos anos trinta do século
passado. Na verdade, foi uma adaptação para uma das primeiras filmagens da
famosa peça de Shakespeare. E atualmente, o icônico balcão atrai turistas do
mundo inteiro, mesmo sendo um turismo fake.
Em Verona ainda se visita a tumba de Julieta, dentre outros
locais alusivos a tão conhecida e festejada estória. Há uma estátua de Julieta,
cujo seio é tocado por amantes e namorados para dar sorte. Shakespeare nunca
esteve em Verona. Mas vale a pena ir lá. As pessoas precisam se iludir,
imaginar e louvar o amor.
Viajando por aí, já escutei muitas estórias inverídicas ou
fantasiosas contadas por guias de turismo ou entusiasmados habitantes do local.
A vida é assim. Há fatos com milhares de versões. A imaginação dos homens é
ilimitada.
O nosso principal atrativo turístico, o Teatro Amazonas,
teria seus calçamentos encobertos por uma camada de borracha. Isso somente no
final do século 19. Os trotes dos cavalos em carruagens não deveriam perturbar
os espetáculos. Dizem que Caruso cantou por aqui. Outra lenda. Mas os turistas
adoram ouvir isso. Quem viaja parece estar à procura de ilusões perdidas. E
acaba encontrando outras. E divertindo-se. Aliás, muitas localidades turísticas
são ilusões. Então estamos combinados. Viva o turismo de ilusão.